sexta-feira, 26 de dezembro de 2008
Já escrevi aqui uma vez que expectativas são excesso de bagagem (frase pinçada de um livro chamado "Coerção e suas implicações", ed. Livro Pleno, escrito por Murray Sidman. Esta frase não tem realmente muita conexão com o assunto principal do livro [como a sociedade atualmente -e sempre - usa da coerção para controlar os indivíduos. Para quem pensou algo como: "E dá pra controlar sem tolher a liberdade, sem ser coercitivo?", a linha de pensamento que Murray defende, a behaviorista, defende que: 1) não existe liberdade, ela é um mito e 2) nem toda forma de controle é ruim. Exatamente porque não há como o controle ser sinônimo de "prisão", já que não há o quase-antônimo "liberdade"]. Mas as expectativas sempre estão presentes em nossa vida. E isso desde que nascemos e esperamos (não existe um verbo para expectativa? Expectar? Expectativar? Esperar mesmo?) pelo primeiro conforto no colo da mãe ou pelo peito pra mamar, nossa primeira "refeição" -olha eu falando de comida aqui de novo... é a fome.
Só que nossas expectativas nem sempre são preenchidas. E isso desde quando, à noite, choramos de fome e parece que nosso alimento não vem (mãe tem que dormir, um dia eu ainda vou saber disso na pele!). E assim vamos seguindo uma vida de frustrações, e não só de preenchimentos de desejos e vontades: e será que seria bom termos todas as nossas vontades satisfeitas? E, mais do que isso, será que isso é possível? Pois o mundo, e a natureza, se encarregam de nos frustrar, de algum jeito. Seja com uma chuva no dia de Ano Novo, seja com uma enchente que derruba casas, famílias e sonhos.
Bom...
Minha comida ficou pronta! Fui!
quinta-feira, 25 de dezembro de 2008
Aproveitando a sesta...
terça-feira, 23 de dezembro de 2008
Cria+atividade
[Imagem: arquivo pessoal]
Há algumas semanas, talvez duas ou três, a capa da revista IstoÉ falava sobre criatividade: o que a ciência diz sobre ela e dicas para desenvolver o seu potencial criativo, deixando-a fluir e se manifestar. Eu não li a matéria toda (benditos sejam os designers de infográficos!), mas eram, no geral, informações que eu já tinha, por gostar de estudar o cérebro humano -ainda que apenas o quanto minha disposição e boa vontade permite.
De qualquer maneira, uma das dicas (na verdade, a peça-chave) para "liberar a criatividade" escrita na matéria é dar-se tempo: ao tentar resolver um problema, por exemplo, parar de pensar nele e se distrair com algo prazeroso, porque a solução surge mais facilmente. Para isso, é preciso primeiro ter um tempo de ócio, por assim dizer, a fim de que as idéias surjam.
Bem, sou muito a favor dessa "técnica" (Essas palavras mecanicistas na verdade me deixam com um pouco de medo e receio, porque um lado meu não quer desvendar os mistérios da nossa mente e de todos os fenômenos que ela "cria", mas não vou me prender muito a esses comentários, pois o texto ficaria todo cheio de aspas).
Aonde quero chegar é ao dizer que este momento de férias é um bom momento pra permitir que idéias loucas surjam, sejam elas relacionadas a projetos profissionais, pessoais, ou a projeto nenhum -que sejam apenas uma boa diversão nessa vida nossa de cada dia, que está tão difícil, mas tão difícil, que Papai Noel já quer ser chamado só de Noel pra não ter que pagar pensão.
quinta-feira, 11 de dezembro de 2008
Capitu (ou flor cândida e pura)
segunda-feira, 8 de dezembro de 2008
Lixo psíquico (ou mensagem de fim de ano)
quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
Poesia de outro (ou Ouçam Little Joy)
Tempo a gente tem
segunda-feira, 1 de dezembro de 2008
Eu tinha que escrever (ou Janta)
Há vários motivos ideológicos para eu não escrever sobre isso; mas também há um único que foi o predominante para que eu decidisse escrever - o tema, o que também é, de certa forma, ideológico. Claro que, somado ao tema, há também meu interesse pessoal por pelo menos um dos dois integrantes - não posso dizer que haja uma "conexão", pois ela implicaria dois envolvidos, mas posso dizer de uma "ligação unilateral", se é que isso é, por sua vez, possível. Na verdade, pensando melhor, há uma conexão sim: ele me transmite algo, que eu tento lhe devolver da forma mais abstrata e intuitível que existe, no meio do coletivo das milhares de pessoas que sentem como eu o que de tão bom ele nos passa.
Enfim.
O tema -que é o Amor, nada mais e nada menos -. nunca passa incólume (é a segunda vez que uso essa palavra no blog; a primeira foi na postagem chamada "Saudade", que, por coincidência, é o mesmo nome de uma música dele que estou ouvindo agora). O Amor pode despertar estranhamento, medo, furor, raiva, ciúmes, inveja. Parece ser (só parece, pois os poetas tentam defini-lo quase que em vão) um sentimento de calmaria que é resultante da anulação das energias tão intensas dos demais sentimentos que ele causa. E, claro, o Amor mais desejado, o que abalaria as estruturas do viver social, é o mais rejeitado.
Já li e ouvi comentários de todo o tipo, inclusive de que a relação entre eles é de uma violação do mais velho - que talvez estivesse juntando bagagem para receber um novo amor, um amor novo como o dela - para a mais nova - que foi menos maculada pelas dores e pelos calos, e que ainda é capaz de chorar de alegria, de transbordamento de Amor puro, como elamesma disse. Mas a violação (e a violência) ocorre quando um lado é forçado a fazer algo que não quer; e o lado que não quer, o lado vítima, é o do Amor; o verdadeiro cometedor de violência é o lado das opiniões cheias de paixão furiosa, que não aceita que esse próprio Amor está dentro de si.
domingo, 16 de novembro de 2008
Top 7 Vozes sexy (ou opinem)
Cada uma deve ter seus timbres preferidos, e esses são alguns dos meus (claro que posso ter esquecido de alguns, fiz essa postagem rapidinho):
7) David Lee Roth (ex-Van Halen)
6) Steve Tyler (Aerosmith)
5) Mark Kopfler (Dire Straits)
4) Julian Casablancas (The Strokes)
3) Bruce Springsteen
2) Chico Buarque
1) Amaranteee! (antes, Los Hermanos... agora, Orquestra Imperial e Little Joy)
Opinem, mulheres... e homens também!
domingo, 9 de novembro de 2008
Querido blog (ou lorota)
Peço desculpas por minha negligência para contigo. Sei que estou devendo algumas postagens fresquinhas e inspiradas, do jeitinho que você gosta, mas é que ultimamente a vida anda caótica (quando não anda?, você pode me perguntar, e eu respondo humildemente que você tem toda razão, mas tenha calma, por favor, e leia a seguir), final de ano é essa dureza mesmo, e agora ainda tenho o final também da faculdade, da minha vida como estudante universitária, da minha rotina, dos dias estudando no campus e comendo pão doce no Benja... Enfim. São muitos lutos pra lidar de uma vez só! Viu? Falando assim, talvez você seja capaz de me entender. Está difícil, juro, não estaria eu aqui me explicando se não tivesse argumentos que justifiquem ao menos um pouquinho esta falha enorme que é dar esse chá de sumiço em você. Desculpe. Tenho percebido -você achou que eu não notaria, né? - que você tem demorado pra carregar sua página aqui no meu computador. Às vezes, até trava e aparece aquele avisinho do Internet Explorer que executou uma operação ilegal e precisa ser fechado. Mas pode ficar tranqüilo e parar com esses atos rebeldes, eu logo volto! Isso se eu não ficar louquinha de pedra antes e começar a falar com seres inanimados... será??
Beijos
Emy
quarta-feira, 29 de outubro de 2008
Elela (ou Elele)
quinta-feira, 25 de setembro de 2008
Rap do poema
(Poesia, palavrinha tão vazia
parece mais uma bexiga cheia
-mas não era vazia? - de ar)
Resolvi escrever sem rascunho
sem papel, caneta ou punho
nem graveto na areia,
vim direto digitar.
Pois na era em que estamos
décadas viram como anos
há muita pressa, minha gente!
Que estou fazendo aqui?
Ah, sim. Vim poesiar postagem
Que é de hoje a mensagem
um tanto quando indecente
do infinito de Emy."
(22/09/2008)
sábado, 20 de setembro de 2008
"51, uma..."
segunda-feira, 15 de setembro de 2008
Mi Confesión (ouça Gothan Project)
A questão é: estou apaixonada. Agora que o escrevi, errando diversas vezes a digitação da palavra “apaixonada” (agora acertei de primeira), é um pouco estranho. Soa exagerado. Parece até mentira. Mas, no fundo, imagino que não o seja. Sei que não é, porque conheço os sintomas. Já me apaixonei diversas vezes. A diferença é que... agora é diferente. É isso. Vou tentar explicar.
Tenho uma noção do por quê posso dizer que agora é diferente. Não é porque é a primeira vez que sou correspondida, ou o oposto disso –não mesmo. Já fui diversas vezes pega pelo platonismo, aquela paixão mais do que idealizada, projetiva. E não tenho a pretensão de achar que, dessa vez, o padrão esteja muito longe do habitual. Não, não. As listras podem não ter as mesmas cores, mas ainda são listras. Também já tive o prazer e os desprazeres de ser correspondida. E, claro, o eu nisso tudo nunca foi igual. Eu fui transformada por minhas paixões. E é este um dos motivos por quais considero que agora seja um pouco (mais) diferente.
Uma de minhas paixões correspondidas cresceu, viveu sua intensa e curta vida como adolescente inconseqüente, envelheceu e se tornou amor. E este amor, posto que é chama, era pouco e se acabou. Não duvido que, na verdade, eu esteja escrevendo tudo isso porque essa dor da queimadura que se tem quando um amor acaba (consigo mesmo e com muitos outros colaterais) ainda dói. “Falar do que foi pra você não vai me livrar de viver” –é isso o que estou ouvindo, aleatoriamente pelo destino, agora. E a dor se aproxima pisada a pisada com meu aniversário, é inegável. Acabei de ver que, na data que se encontra no subtítulo*, eu havia digitado 2004 ao invés de 2008. Não deve ser mentira, o inconsciente existe, explique-o como quiser. Mas falar de psicologia seria falar de outra paixão. Voltemos ao assunto.
Não quero falar do quanto tive que amadurecer durante minha passada pelos quadros de Munch. Eles não são fáceis, apesar de tão instigantes pra mim. Acabo voltando a eles, de vez em quando, por simples prazer, mas somente a passeio, não para me instalar de modo tão desconfortável e forçado, exilado, como naquela época. Época que, aliás, fez o primeiro aniversário dez dias atrás. Sim, assim como Anna O., que vivenciava o passado no presente, parece que um pedaço de mim o está fazendo agora.
Mas os caminhos sempre têm um preço –e, quando você dá mais pelo tíquete, recebe o troco. No meio de tudo isso, dei uma folga pro lado negativo da distimia que sucede um evento enlouquecedor, me rendendo à mania pelo menos por algumas horas, escravas ensandecidas –como eu- da noite. E foi aí que, que sorte a minha, encontrei um outro alguém. Eu não sei, graças a Deus, porque seria muito chato sabê-lo, que conjunções místicas e astrológicas estavam sendo realizadas naquele momento. Só sei que Baco ajudou muito neste encontro. Sim, eu estava bêbada, maníaca. E por isso que foi tão bom. Mas, apesar da embriaguez, algo me dizia, apesar do medo, que aquele encontro não era à toa, ele viria a me dizer algo mais. E, aos trancos e barrancos, realmente tem me dito, ainda agora, quase nove meses depois.
Por que aos trancos e barrancos? É este o meu desespero único nessa aventura nova em que tenho me... bem, me metido. Aprendi a não falar com estranhos desde pequena. E quem são estranhos? São pessoas a quem não fomos apresentados, ou seja, de quem não sabemos o nome. Pois a situação em que estou, com esse outro alguém, é uma situação na qual, por essa lógica, também não devo confiar, visto que tampouco me foi apresentada previamente ou foi, por algum batismo posterior e consensual, nominada.
Jamais imaginei me colocar neste tipo de relação, mesmo porque, com o amor que me tinha, eu já não pensava que teria um dia que estar em outra relação. E é bom agora saber que mudanças nos planos não dependem apenas de nós, elas exigem o que não somos capazes de dar por conta própria. Não somos mais donos do nosso destino a partir do momento em que a vida implica a presença de mais alguém. E, mesmo assim, a soma de um e um outro é ainda maior do que dois. Tendo este dado guardado em meu bolso, me arrisco a experimentar.
E como! É uma nova qualidade, nem pior nem melhor (por mais que eu tenda a comparar), de encontro. Envolve, sim, o tato, a visão, a audição, o olfato e o paladar – a sensualidade em seu sentido mais puro, impuro, imundo, mundano, humano. Envolve uma atração física e espiritual que me revigora, apesar de tender a me atar em correntes, já que muitas vezes até me tira o sono. São as velhas listras...
domingo, 7 de setembro de 2008
10 Verdades Inconvenientes
(*OBS: esta frase não é minha, é de um behaviorista chamado Murray Sidman. As outras são)
segunda-feira, 1 de setembro de 2008
I´m still here
I just wanna say that I´m still here and haven´t forgotten my blog site. To the readers and friends (and to myself), I´ll be back soon. It´s just that my libido is not so directed to some things that I love to do like writing.
Acho que esta frase de cima é apenas uma auto-afirmação. De toda forma, aviso a todos, inclusive a mim mesma, que logo voltarei a postar aqui. Já estou com várias idéias, só não estou com a libido direcionada para escrever...
quinta-feira, 31 de julho de 2008
Meninos não sonham
sexta-feira, 18 de julho de 2008
Time to say goodbye (ou brincos)
terça-feira, 15 de julho de 2008
Pílula de pensamento 2
segunda-feira, 23 de junho de 2008
Uma análise psicológica de Amy Winehouse
segunda-feira, 16 de junho de 2008
Contando um quadro (inspirada em Veríssimo)
segunda-feira, 9 de junho de 2008
Neuro+ótico
sexta-feira, 16 de maio de 2008
domingo, 4 de maio de 2008
Alegría
sexta-feira, 2 de maio de 2008
Pr´um dia de chuva como esse...
quarta-feira, 30 de abril de 2008
Sex and The Sims
sábado, 26 de abril de 2008
Mais fácil aprender japonês em braile (ou confissões)
Essa semana aconteceu algo diferente comigo (na verdade, se a gente ficar atento, vai ver que todo dia acontece algo diferente com a gente, é só ter essa expectativa -e perspectiva). Eu entrei no ônibus 118C Santa Cecília, como faço três vezes por semana. Fui pro fundo do busão, e tinha um carinha sentado e sorrindo pra mim. Na verdade, achei ele um pouco estranho na hora, por um átimo de segundo confesso que tive medo -o que é normal de sentir no transporte público. Mas aí senti que era um sorriso simpático, genuíno. Então fiquei parada ao seu lado. Ele logo estendeu as mãos, se oferecendo para carregar minhas coisas. Entreguei minha pasta e agradeci, distraída. Passam alguns segundos, e ele começa a fazer uns ruídos meio alto: "Uhn- ahn-ãohn?". Pensei que ele tinha algum déficit mental. Ele então começou a fazer gestos, puxar os olhos e depois escreveu com o dedo na minha pasta: 'Japão'. Entendi, respondi que era descendente de japoneses. Foi aí que entendi que ele era surdo-mudo.
Daí até o ponto que desço, fomos nos comunicando: ele perguntou se eu tinha namorado e por quê não; perguntou se eu morava por ali e contou onde morava; perguntou se eu tinha orkut (essa foi difícil de entender!) e disse que tinha. Ele estava acompanhado de uma amiga também surdo-muda, e de vez em quando eles se falavam por gestos. Senti que o pessoal do ônibus estava interessado no papo que rolava entre nós, mas ninguém falou nada, e eu também sou tímida o suficiente para não ter olhado pra ninguém. Chegamos ao ponto do metrô, muita gente saiu, a porta se fechou. De repente, os dois, a amiga e ele, saíram correndo e gritando coisas 'ininteligíveis' (?) ao cobrador, que mal olhava para eles. Eu também não estava entendendo muito bem, estava confusa assim como todo mundo, até que uma senhora gritou: "Pelo amor de Deus, gente, abre a porta, eles querem descer!". A porta se abriu, e eles nem souberam que foi a mulher quem os ajudou -porque ela não estava em seu alcance visual.
Confesso que me senti realmente mal por não ter entendido o que eles queriam, nem podido assim ajudar. Mas acho que esse meu sentimento veio principalmente porque, de alguma forma, me senti na obrigação de retribuir a alguém que me ajudou não só a carregar meus pertences, mas também me fez ver que, muita vezes, os surdos e mudos somos nós -nós, os do "lado de cá".
E que raios de comunicação é essa, truncada ou inexistente, que muitas vezes preferimos estabelecer com o outro? Só não se comunica quem não quer. E quem quer? Não está fácil pra ninguém, mas às vezes o lado que tem mais dificuldades é o que persevera.
sábado, 12 de abril de 2008
de onde vêm as coisas
[Imagem: "Ninféias", Claude Monet, óleo sobre tela, 130x200cm, ano?]
Hoje minha cabeça está bem bagunçada. Não sei direito o que fazer. Voltei de um belo passeio de barco, num lago que circunda minha casa. Estava frio, e o nevoeiro já estava cobrindo as plantas e o animais, prenunciando perigo pros que ali não pertencem. Não lembro por quê estava ali. Caí no lago. Não devia ter brincado com forças maiores do que as minhas que, aliás, são tão precárias neste momento.
O céu está vermelho. Isso é estranho, mas me dá uma sensação de calor que ajuda a aquecer meu pobre corpo, ensopado com água doce, a roupa coberta por musgo e ninféias. Sinto que alguém está por perto e que vai me agarrar pelas costas a qualquer instante. Pra isso, guardo dentro do peito um grito terrível, caso tal iminência deixe de sê-lo e se torne ato.
Corro. O ar gelado corta meus pulmões e bloqueia a passagem de meu grito.
De repente, estaciono. Meu corpo se desequilibra por não acompanhar a velocidade de meus pensamentos, e caio. Estacionei porque o sentido de correr simplesmente saiu de minha lógica, da ordem que sigo de dentro de mim. Pra quê, mesmo?
Os músculos tremem. Sinto os pés se torcendo por causa do esforço e do frio. Tento urrar de dor, mas não consigo. Me deixo deitar no chão, dobrado, com as mãos nos pés. Não há outra coisa a fazer além de chorar.
terça-feira, 8 de abril de 2008
Mulher Narcísica
ouvirá mais de mil definições
escolha a que mais lhe interessou
e ela não lhe causará decepções.
Me veja como santa, como ré
me veja sonsa, sóbria, sagaz
pois eu me faço ver como quiser
e de tantos outros truques sou capaz.
Posso te enganar, te iludir
apunhalar seu coração sem prévio aviso
posso chorar e até te agredir
mas sempre ter no bolso um bom sorriso.
Pois quem sou só Freud explica
com um termo bem peculiar:
ele me chama Mulher Narcísica,
que só a si mesma sabe amar.
Mas não julgue o que não pode conhecer
não caia em ciladas -só nas minhas-
pois o destino desta mulher é padecer
do constante temor de estar sozinha."
(poema de julho de 2005)
quarta-feira, 26 de março de 2008
Ler o almoço e comer o livro (ou ajudinha do Chaves)
domingo, 23 de março de 2008
Páscoa (ou postagem polêmica)
[Imagem: "O sacramento da última ceia", Salvador Dalí]
Hoje é Páscoa.
Não sei explicar direito o por quê, mas esse feriado pra mim geralmente é meio triste. Não lembro uma páscoa em que eu, de alguma forma, não tivesse ficado meio chateada, nem que seja por uns instantes. Uma vez, comentei isso com uma amiga (por sinal, uma daquelas amigonas do peito, daquelas de infância e de coração) e ela me disse que seu pai também tem essa sensação. Achei engraçado e, desde então, nesta época, tento pensar nos motivos que fariam o pai de uma amiga e eu termos em comum essa sensação melancólica na ressurreição de Cristo.
Começando pelo mais óbvio -caro Watson-, posso pensar no próprio significado da Páscoa, explicitado ali no final do parágrafo de cima. Pensar que alguém ressucitou é, talvez, lembrar que a pessoa antes teve que morrer e, no caso, não foi uma pessoa qualquer nem uma morte qualquer; Jesus foi morto e crucificado. O fato de Cristo ter ressucitado para nos salvar envolve, no mínimo, dois sentimentos: gratidão e culpa. Daí poderia vir meu sentimento ruim. A amarga culpa, com gosto de babosa (nunca experimentei, mas meu avô disse que é amarga).
Fazendo o samba do crioulo doido, os dois sentimentos de que falei me lembram de uma psicanalista chamada Melanie Klein, bem menos conhecida que o paizão Freud, mas que pra nós é bem conhecida (e causadora de embates: ou você a ama ou a odeia). Outro dia -se pá -eu falo da vida dela, que é bem interessante. Mas hoje quero falar somente um ínfimo que sei de uma parcela da teoria dela sobre inveja e gratidão. Para Klein (grosso modo!), nós, quando bebês, sentimos inveja da mãe por ela ser portadora de tudo o que é bom: leite, calor e o amor do daddy. Dependemos dela, e isso é irritante. Resultado disso é a atacarmos de algum modo simbólico e sentirmos de volta essa agressão, sem percebermos que essa raiva, na verdade, está em nós mesmos. Isso acontece até sermos maduros o suficiente para nos darmos conta do que rola, sentirmos culpa e, conseqüentemente, gratidão por essa mamãe que nos mantém vivos. Aí passamos, diga-se, para um "estado mais elevado do ser". Isso acontece com (quase) todos nós.
Enfim, a Páscoa pode ser um momento feliz, por envolver um fato glorioso da bíblia e também, hoje em dia, por ser um feriado prolongadão. Mas ela também me faz triste. E ao pai da minha amiga também. Pode ser do nosso sentimento de culpa por não sermos perfeitos e, por isso, termos sido salvos por alguém muito melhor do que nós. Alguém pleno como a mamãe. Alguém a quem devemos gratidão enorme, pois, mais do que nos dar leite, nos deu sua vida. Pode ser também por muitos outros motivos.
Caracas, viajei nessa postagem... Deve ter sido overdose de chocolate!
quarta-feira, 19 de março de 2008
Saudade
[Imagem: Edvard Munch, "Manhã", ano ?]
Como muita gente sabe, "saudade" é uma palavra que não existe em outras línguas. Além disso (ou por isso), é também uma das mais difíceis de traduzir em outros idiomas. Assim, para passar para outro idioma, usa-se um número grande de palavras para tentar dizê-la.
Acho que, indo além do significado semântico, no qual se utiliza a linguagem, a saudade é muito mais difícil de exprimir em um mínimo -seja esse mínimo um mínimo de palavras, um mínimo de afetos, um mínimo de sensações corporais. Saudade é algo muito mais complexo do que o quanto em si mesma comporta, daí sua incompatibilidade com o que quer que seja mínimo, menor, limítrofe, pouco.
Saudade é muito. Não existe pouca saudade. Sendo assim, ela tem um quê de onipotência, de preenchimento, de plenitude. Ela é autótrofa, autóctone, auto-suficiente. Chega até a ser invasiva, tomando espaço de outros sentimentos -estes, geralmente mais traduzíveis. Ao mesmo tempo, a saudade pode ser um poço vazio. Um nada. Um silêncio, um hiato. Saudade é pura contradição.
... Será que uma postagenzinha conseguiu traduzir um mínimo do que ela é?
sábado, 8 de março de 2008
Dia das Mulheres
She can ruin your faith with her casual lies.
And she only reveals what she wants you to see.
She hides like a child, but she's always a woman to me.
She can lead you to love, she can take you or leave you.
She can ask for the truth, but she'll never believe.
And she'll take what you give her as long it's free.
She steals like a thief, but she's always a woman to me.
Ohhh... she takes care of herself.
She can wait if she wants, she's ahead of her time.
Ohhh... and she never gives out,
and she never gives in, she just changes her mind.
And she'll promise you more than the garden of Eden.
Then she'll carelessly cut you and laugh while you're bleeding.
But she brings out the best and the worst you can be.
Blame it all on yourself 'cause she's always a woman to me.
She's frequently kind and she's suddenly cruel.
She can do as she pleases, she's nobody's fool.
But she can't be convicted, she's earned her degree.
And the most she will do is throw shadows at you,
but she's always a woman to me.
(She is always a woman to me - Billy Joel)
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008
Só pra constar...
[Imagem: filme "Memórias de uma gueixa"]
domingo, 27 de janeiro de 2008
Quem conta um quadro... (ou pintando um conto)
quinta-feira, 24 de janeiro de 2008
Postage en español (o portuñol)
Tu me preguntas: ¿pero qué cosas, por ejemplo?
Para mí, el lenguaje es vital. El acto de comunicarse es inherentemente humano. Y eso no depende de hablar o de oír. Hay sutilezas que se perden en el medio de palabras y que solamente pueden ser resgatadas por otras maneras de expresión. Un sonrisa. Un movimiento de manos o de cabeza. Un sonido. Una mirada. Un rato en silencio. Una tonalidad de voz. Un imaje. Una simultaneidad. Y hay sentimientos y ideas que combinan mejor con una lengua específica. Para mí, el español el una lengua viceral -creo no haber palabra más perfecta para definirla. Para hablar de amor, de pasión, de víceras. De sentimientos profundos u oscuros, que ni siempre pueden ser dichos en otra lengua sin perder su fuerza. Talvez (y tengo casi certeza) el tango sea un ejemplo máximo de esa fuerza, pasión, en fin, todo lo que dijo arriba. Las formas de comunicación (de lenguaje) de una lengua están siempre conectadas. Y eso es lindo.
Pienso que ese postaje es una declaración visceral de amor a la lengua española.
segunda-feira, 21 de janeiro de 2008
Saramago (ou Postagem Preguiçosa)
Eu também li "A Caverna" e aqui vão dois trechos do livro:
“Autoritárias, paralisadoras, circulares, às vezes elípticas, as frases de efeito, também jocosamente denominadas pedacinhos de ouro, são uma praga maligna, das piores que têm assolado o mundo. Dizemos aos confusos, Conhece-te a ti mesmo, como se conhecer-se a si mesmo não fosse a quinta e mais dificultosa operação das aritméticas humanas, dizemos ao abúlicos, Querer é poder, como se as realidades bestiais do mundo não se divertissem a inverter todos os dias a posição relativas dos verbos, dizemos aos indecisos, Começar pelo princípio, como se esse princípio fosse a ponta sempre visível de um fio mal enrolado que bastasse puxar e ir puxando até chegarmos à outra ponta, a do fim, e como se, entre a primeira e a segunda, tivéssemos tido nas mãos uma linha lia e contínua em que não havia sido preciso desfazer nós nem desenredar estrangulamentos, coisa impossível de acontecer na vida dos novelos e, se uma outra frase de efeito é permitida, nos novelos da vida. Marta disse ao pai, Comecemos pelo princípio, e parecia que só faltava que um e outro se sentassem à bancada a modelar bonecos entre uns dedos subitamente ágeis e exactos, com a antiga habilidade recuperada de uma longa letargia. Puro engano de inocentes e desprevenidos, o princípio nunca foi a ponta nítida e precisa de uma linha, o princípio é um processo lentíssimo, demorado, que exige tempo e paciência para se perceber em que direção quer ir, que tenteia o caminho como um cego, o princípio é só o princípio, o que fez vale tanto como nada.” (pp. 71-72)
“...os sonhos humanos são assim, às vezes pegam em coisas reais e transformam-nas em visões, outras vezes põem o delírio a jogar às escondidas com a realidade, por isso é tão freqüente confessarmos que não sabemos a quantas andamos, o sonho a puxar de um lado, a realidade a empurrar do outro, em boa verdade a linha reta só existe na geometria, e ainda assim não passa de uma abstracção.” (p. 197)
quarta-feira, 16 de janeiro de 2008
Ousadia (ou Edgar Degas)
segunda-feira, 14 de janeiro de 2008
pr´o sentimento poder dar vazão.
Não que eu pudesse
mas é que parece ter boa razão.
A dor que me causas
me tira de casa, me rouba o chão.
E por mais que eu tente
tu és resistente em meu coração.
Questiono o amor
e se aquele torpor lhe é pura essência.
Pra onde este foi
se ele compõe sua vil aparência?
A máscara cai,
e com ela se vai minha vã resistência.
E então fico só,
acumulando pó em tua ausência.
Peço liberdade,
estranha vontade de nos entristecer.
Não me abdico de culpa,
mas minhas desculpas não vais merecer.
Hoje usei este tempo
pro meu tormento tentar esquecer.
Mas eu não sei te amar,
e me dói sacar que isso não pode ser. "
(30/05/2005)
Eu fiz este poema há dois anos e meio, mas como os poemas em geral, ele é eterno pra quem um dia se identificou com ele.