quarta-feira, 26 de março de 2008

Ler o almoço e comer o livro (ou ajudinha do Chaves)


A Revista da Folha desta semana mostrou uma pesquisa sobre a leitura no Brasil. Não me lembro de onde eram os dados, mas a média do brasileiro no quesito leitura é de 1,8 livro/ano (!). Fiquei assustadíssima. Desde os 4 anos de idade, minha média é sempre bem maior! Ano passado, por exemplo, eu li uns 25 livros.

Claro que, talvez, eu não possa ser parâmetro -admito meu lado totalmente nerd e sei que a grande maioria das pessoas não é assim (Graças a Deus). Só que ler 1,8 livro é muito pouco pra 365 dias do ano -a situação só piora nos anos bissextos!

É claro que há muitas variáveis nesse dado. Das que eu posso dizer, estas são algumas:

1) O Brasil tem 200 milhões de pessoas, sendo que a renda $ se divide em cinco classes. É muita discrepância entre a classe A e a E;

2) Livros não são o bem de consumo mais barato. Pelo contrário, o preço não é muito acessível. Uma pessoa que ganhe um salário mínimo para pagar aluguel, contas, comida e transporte nem sempre pode gastar 30 reais num livro (para isso, há algumas soluções de outros países -por sinal, com menos classes sociais distintas- , como imprimir livros com papel de qualidade inferior e menores);

3) O investimento em bibliotecas públicas não é tão grande quanto o investimento nas bibliotecas privadas dos escritórios e living rooms das casas dos senadores;

4) O hábito de ler não é transmitido como algo prazeroso, mas sim como uma obrigação, tanto na escola quanto no trabalho;

5) As outras formas de lazer mais socialmente aplaudidas envolvem mídias como computador e televisão -enfim, cenários que você não precisa movimentar dentro da sua cabeça, porque eles se mexem sem sua interferência ou criatividade, contribuindo para uma futura demência precoce, ou algo assim, por causa do atrofiamento das sinapses. (É claro que estou sendo totalmente terrorista agora)

Não quero só apontar as causas, que são inúmeras e outras pessoas poderiam fazê-lo muito melhor do que eu. Quero também propor e pedir soluções. Acho que a solução aí (e, quando digo isso, fica claro que consideroum grande problema lermos tão pouco) tem que funcionar como o mecanismo do Chaves com o Kiko. Quando o Chaves aparecia com um pirulito, o Kiko ficava com vontade e aparecia com um maior ou com dois. Ou seja, a partir de um estímulo, ele sentia a necessidade. É assim que funciona a saída que proponho: aos que sentem prazer em ler, que não sejam egoístas e demonstrem isso aos outros. Dêem livros antigos, gibis que liam tempos atrás. Leiam livros no transporte público e façam cara de deleite a cada página avançada. Beijem os livros da biblioteca, espalhem cartazes de propaganda de sebos. Sentem no chão da Saraiva Mega Store mais próxima e leiam em voz alta. Promovam saraus (com ou sem diversões mais profanas inclusas). É claro que a vida é muito mais do que isso, mas ler é uma viagem cujos suvenires nós guardamos no lugar mais sagrado.

Obrigada por ter lido essa postagem que escrevi. O prazer foi meu. E seu também!

domingo, 23 de março de 2008

Páscoa (ou postagem polêmica)


[Imagem: "O sacramento da última ceia", Salvador Dalí]


Hoje é Páscoa.


Não sei explicar direito o por quê, mas esse feriado pra mim geralmente é meio triste. Não lembro uma páscoa em que eu, de alguma forma, não tivesse ficado meio chateada, nem que seja por uns instantes. Uma vez, comentei isso com uma amiga (por sinal, uma daquelas amigonas do peito, daquelas de infância e de coração) e ela me disse que seu pai também tem essa sensação. Achei engraçado e, desde então, nesta época, tento pensar nos motivos que fariam o pai de uma amiga e eu termos em comum essa sensação melancólica na ressurreição de Cristo.


Começando pelo mais óbvio -caro Watson-, posso pensar no próprio significado da Páscoa, explicitado ali no final do parágrafo de cima. Pensar que alguém ressucitou é, talvez, lembrar que a pessoa antes teve que morrer e, no caso, não foi uma pessoa qualquer nem uma morte qualquer; Jesus foi morto e crucificado. O fato de Cristo ter ressucitado para nos salvar envolve, no mínimo, dois sentimentos: gratidão e culpa. Daí poderia vir meu sentimento ruim. A amarga culpa, com gosto de babosa (nunca experimentei, mas meu avô disse que é amarga).


Fazendo o samba do crioulo doido, os dois sentimentos de que falei me lembram de uma psicanalista chamada Melanie Klein, bem menos conhecida que o paizão Freud, mas que pra nós é bem conhecida (e causadora de embates: ou você a ama ou a odeia). Outro dia -se pá -eu falo da vida dela, que é bem interessante. Mas hoje quero falar somente um ínfimo que sei de uma parcela da teoria dela sobre inveja e gratidão. Para Klein (grosso modo!), nós, quando bebês, sentimos inveja da mãe por ela ser portadora de tudo o que é bom: leite, calor e o amor do daddy. Dependemos dela, e isso é irritante. Resultado disso é a atacarmos de algum modo simbólico e sentirmos de volta essa agressão, sem percebermos que essa raiva, na verdade, está em nós mesmos. Isso acontece até sermos maduros o suficiente para nos darmos conta do que rola, sentirmos culpa e, conseqüentemente, gratidão por essa mamãe que nos mantém vivos. Aí passamos, diga-se, para um "estado mais elevado do ser". Isso acontece com (quase) todos nós.


Enfim, a Páscoa pode ser um momento feliz, por envolver um fato glorioso da bíblia e também, hoje em dia, por ser um feriado prolongadão. Mas ela também me faz triste. E ao pai da minha amiga também. Pode ser do nosso sentimento de culpa por não sermos perfeitos e, por isso, termos sido salvos por alguém muito melhor do que nós. Alguém pleno como a mamãe. Alguém a quem devemos gratidão enorme, pois, mais do que nos dar leite, nos deu sua vida. Pode ser também por muitos outros motivos.





Caracas, viajei nessa postagem... Deve ter sido overdose de chocolate!

quarta-feira, 19 de março de 2008

Saudade


[Imagem: Edvard Munch, "Manhã", ano ?]


Como muita gente sabe, "saudade" é uma palavra que não existe em outras línguas. Além disso (ou por isso), é também uma das mais difíceis de traduzir em outros idiomas. Assim, para passar para outro idioma, usa-se um número grande de palavras para tentar dizê-la.


Acho que, indo além do significado semântico, no qual se utiliza a linguagem, a saudade é muito mais difícil de exprimir em um mínimo -seja esse mínimo um mínimo de palavras, um mínimo de afetos, um mínimo de sensações corporais. Saudade é algo muito mais complexo do que o quanto em si mesma comporta, daí sua incompatibilidade com o que quer que seja mínimo, menor, limítrofe, pouco.


Saudade é muito. Não existe pouca saudade. Sendo assim, ela tem um quê de onipotência, de preenchimento, de plenitude. Ela é autótrofa, autóctone, auto-suficiente. Chega até a ser invasiva, tomando espaço de outros sentimentos -estes, geralmente mais traduzíveis. Ao mesmo tempo, a saudade pode ser um poço vazio. Um nada. Um silêncio, um hiato. Saudade é pura contradição.

... Será que uma postagenzinha conseguiu traduzir um mínimo do que ela é?

sábado, 8 de março de 2008

Dia das Mulheres

[Imagem: "Gala em esferas atômicas", Salvador Dalí. Não achei o nome orginal nem a data, mas é algo assim]


She can kill with a smile, she can wound with her eyes.
She can ruin your faith with her casual lies.
And she only reveals what she wants you to see.
She hides like a child, but she's always a woman to me.

She can lead you to love, she can take you or leave you.
She can ask for the truth, but she'll never believe.
And she'll take what you give her as long it's free.
She steals like a thief, but she's always a woman to me.

Ohhh... she takes care of herself.
She can wait if she wants, she's ahead of her time.
Ohhh... and she never gives out,
and she never gives in, she just changes her mind.

And she'll promise you more than the garden of Eden.
Then she'll carelessly cut you and laugh while you're bleeding.
But she brings out the best and the worst you can be.
Blame it all on yourself 'cause she's always a woman to me.

She's frequently kind and she's suddenly cruel.
She can do as she pleases, she's nobody's fool.
But she can't be convicted, she's earned her degree.
And the most she will do is throw shadows at you,
but she's always a woman to me.

(She is always a woman to me - Billy Joel)


*


Hoje é um dia muito especial pra todas nós, mas também o é só pra mim...

Mulheres são filogeneticamente e culturalmente rivais, mas hoje há trégua: Feliz Dia das Mulheres!