terça-feira, 2 de novembro de 2010

02-11-.


Dia de Finados.
Como disse alguém no twitter, "hoje é o único dia do ano que morto ainda é chamado de finado". Concordo. Ninguém mais usa esse termo. E não acredito também que muita gente use esse dia pra dedicar um tempo aos mortos, ops, aos finados. Duvido até que algumas crianças saibam o que significa a data. Pai, quem foi Finados?
A cada frase que escrevo, desconfio mais de que já escrevi sobre este dia aqui no blog, provavelmente no ano passado. Mas não quero conferir, a História é feita de recontos, aumento de pontos, e no meu caso quero que seja de pontos de vista.
Minha casa fica a um quarteirão do cemitério da cidade. Eu cresci tendo por vista aquelas caixinhas encrustadas na terra, sobre as quais pendiam cruzes ou estátuas de anjos. Árvores grandes, sempre cheias de folhas, preenchiam os buracos da paisagem.
Sempre fui a pé ao cemitério, junto com meus pais, como fiz hoje. No caminho, fomos encontrando conhecidos, pessoas que não se via há tempos, pessoas mudadas que forçavam a memória a retomar aquele sorriso, aquele jeito de andar, para poder reconhecê-las a despeito dos cabelos mais brancos, das costas mais arqueadas, ou mesmo das roupas mais coloridas, do aperto mais firme das mãos. O caminho pode ser triste ou feliz, independentemente do quão íngreme é a descida. Dia de Finados pode significar reencontro não só dos que se foram, mas também dos que só estiveram longe por um tempo.
Chegando lá, leitora de tudo o que tenha significado, começava eu a olhar as placas com as datas de nascimento e de falecimento, as estrelinhas e as cruzinhas antecedendo os dias-meses-anos. Hoje, repetindo o rito, notei como é possível fazer diversas combinações, cruzar datas, constatar coincidências às quais atribuímos significados, reencarnações, destinos.
Se parar pra pensar, acho importante manter esta constância, este prumo que não nos deixa escapar do que somos. Costumes que às vezes se perdem. Pessoas que parecem não ter existido, mas que estavam lá, registradas dentro de nós. Em algum lugar, ainda sou a menina que vai com os pais ao cemitério, a pé, e lê as datas e as plaquinhas das lápides. Pai, quem foi Finados?