Você pode ser linda; ter um cabelo perfumado; bom hálito.
Você pode ser inteligente, falar de arte e de futebol usando um mesmo argumento
essencial. Você pode ser engraçada, rir de si mesma, permitir que uma briguinha
vire motivo de piada. Você pode ser companheira, lembrar-se de perguntar como
foi o trabalho, vibrar com uma conquista, topar um programa de índio sabendo
que pode ser divertido. Você pode ter tantas qualidades, mas sempre haverá
alguém com qualidades parecidas, ou relativamente melhores. No fim, não é o
conjunto de suas qualidades que determinará o sucesso ou o fracasso do seu
relacionamento. Este, como já sabemos, é feito de dois; suas qualidades e seus
defeitos são apenas uma pequena parcela do todo dinâmico e imprevisível que é
uma relação. O que é qualidade pra um, pode não ser pra outro. Sua beleza pode
deixá-lo inseguro. Seu companheirismo pode parecer uma invasão de privacidade.
Sua insegurança pode ser a engrenagem que o faz se sentir forte e poderoso.
Não, você não fez nada de errado, você não faltou com nada, você não excedeu em
nada; e ao mesmo tempo sim, você fez tudo isso, e mais um pouco. Depende do
ponto de vista, e ele nunca é monoangular quando o que se está em jogo é uma
trama que envolve (pelo menos) dois seres com toda essa bagagem nas costas.