sábado, 27 de junho de 2009

Desatando nós

Nem sempre as coisas saem como a gente espera, prevê, imagina ou deseja.
Muitas vezes, temos a impressão de que esse fato que muda nossas expectativas é uma surpresa, que irrompe no nosso cotidiano e nos deixa à mercê do desconhecido, vagando por lugares dos quais não nos sentimos pertencentes.
No entanto, em outros momentos podemos pensar o contrário: que houveram sinais vagos, sinais difusos, sinais claros, sinais óbvios de que essas águas desembocariam inevitavelmente aonde foram tornadas, transformadas. E, então, cada um pode sentir o que melhor lhe aprouver: raiva, humilhação, culpa, clareza, contentamento, alívio. Meio que "vai da fé" de cada um.
Pode ser confortador, aconchegante fazer esse exercício, sentir que, de algum modo (i.e., por meio da reflexão, da racionalização, das explicações por vezes ilógicas aos olhos de outrem) - pra muitos e outros, o acaso se mantém sob nosso controle.
E, na mesma maré onde se espalham estes extremos ao mesmo tempo tão próximos, repousam gamas de sentimentos, que nos confudem e atormentam, trazendo à tona ora desejos de naufrágio, ora fôlego para mais braçadas.
Os passos que damos geralmente nos passam despercebidos, a não ser quando têm de ser muito largos, quase saltos. E mesmo estes podem ser tão brevemente esquecidos que nem sabemos que alguma vez os lembramos.

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Finalizando com a frase de Catherine Millet (que estará na Flip deste ano e, infelizmente, eu não dei meus pulos pra ir) que li em entrevista para a Folha de São Paulo:
"quando você escreve sua vida, ela se torna qualquer coisa da qual você não faz mais parte."