sábado, 27 de junho de 2009

Desatando nós

Nem sempre as coisas saem como a gente espera, prevê, imagina ou deseja.
Muitas vezes, temos a impressão de que esse fato que muda nossas expectativas é uma surpresa, que irrompe no nosso cotidiano e nos deixa à mercê do desconhecido, vagando por lugares dos quais não nos sentimos pertencentes.
No entanto, em outros momentos podemos pensar o contrário: que houveram sinais vagos, sinais difusos, sinais claros, sinais óbvios de que essas águas desembocariam inevitavelmente aonde foram tornadas, transformadas. E, então, cada um pode sentir o que melhor lhe aprouver: raiva, humilhação, culpa, clareza, contentamento, alívio. Meio que "vai da fé" de cada um.
Pode ser confortador, aconchegante fazer esse exercício, sentir que, de algum modo (i.e., por meio da reflexão, da racionalização, das explicações por vezes ilógicas aos olhos de outrem) - pra muitos e outros, o acaso se mantém sob nosso controle.
E, na mesma maré onde se espalham estes extremos ao mesmo tempo tão próximos, repousam gamas de sentimentos, que nos confudem e atormentam, trazendo à tona ora desejos de naufrágio, ora fôlego para mais braçadas.
Os passos que damos geralmente nos passam despercebidos, a não ser quando têm de ser muito largos, quase saltos. E mesmo estes podem ser tão brevemente esquecidos que nem sabemos que alguma vez os lembramos.

***

Finalizando com a frase de Catherine Millet (que estará na Flip deste ano e, infelizmente, eu não dei meus pulos pra ir) que li em entrevista para a Folha de São Paulo:
"quando você escreve sua vida, ela se torna qualquer coisa da qual você não faz mais parte."

2 comentários:

Anônimo disse...

"o acaso se mantém sob nosso controle" (YOKOMIZO 2009, p.1). Interessante parar para refletir sobre isso, jogar essa reflexão aos fatos que cortam nossas vidas, que por vezes julgamos inesperados, mas que insistiram em nos avisar várias vezes. Pensar nisso pode ser um conforto ou um pesadelo, pois por um lado a situação volta ao seu controle, por outro a situação saiu do controle por sua culpa. Será tudo obra do acaso ou obra nossa? Seja como for acho uma questão muito interessante ao exercicio do existencialismo. Claro que a questão que mais me intriga é o fato tão surpreendente que te levou a elaboração de tal pensamento, acho que relfetir sobre isso é mais misterioso e fascinante. Bem enfim prometi e vim comentar seu blog (ah adivinha quem é? rs). Ah já li todo o blog(adorei o seu soneto torto - muda o título lá pra algo mais cabível, pois está lindo! - métrica pra que? rs), os dois inclusive (no outro não comentei porque tem que fazer login - e meu pseudonimo por hora é segredo - como te enviei no e-mail preciso te mostar meu lado mais legal primeiro, depois mostro meu lado sombrio rs - ah e sim seus contos são bem legais - o ultimo me deixou meio triste pois achei ijusto uma menina tão linda, inteligente, simpática, sensivel, amorosa, linda de novo - ao quadrado - excelente escritora e profissional conhecer tanto de tristeza - bem quem falou que esse mundo é justo?) e enfim adorei tudo, cada caractere (vindo de você não tem como não gostar). Para enfim terminar, um abraço, um beijo se a mim for permitido e escreva sempre, é um exercício dos mais maravilhosos. Luis (adivinhou antes? Hein, hein? rs)

Ju disse...

Nossa, estranho ler esse post novamente. Agora vendo de outra perspectiva, menos esperançosa, mais triste...
Mas como você mesma disse, esses mesmos sentimentos que nos confundem podem trazer à tona tanto desejos de naufrágio como fôlego para mais braçadas.
Espero intensamente que o primeiro desejo dê lugar ao segundo sempre...
Bjos,