sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Sãos 22:32 e eu estou esperando nossa comida ficar pronta (starving to death). De qualquer forma, achei que seria legal escrever no blog, sendo ele (o blog), nesse momento, um simples objeto, depositário de energias acumuladas dentro de mim devido ao ócio e à fome. Enfim. Expectativas.
Já escrevi aqui uma vez que expectativas são excesso de bagagem (frase pinçada de um livro chamado "Coerção e suas implicações", ed. Livro Pleno, escrito por Murray Sidman. Esta frase não tem realmente muita conexão com o assunto principal do livro [como a sociedade atualmente -e sempre - usa da coerção para controlar os indivíduos. Para quem pensou algo como: "E dá pra controlar sem tolher a liberdade, sem ser coercitivo?", a linha de pensamento que Murray defende, a behaviorista, defende que: 1) não existe liberdade, ela é um mito e 2) nem toda forma de controle é ruim. Exatamente porque não há como o controle ser sinônimo de "prisão", já que não há o quase-antônimo "liberdade"]. Mas as expectativas sempre estão presentes em nossa vida. E isso desde que nascemos e esperamos (não existe um verbo para expectativa? Expectar? Expectativar? Esperar mesmo?) pelo primeiro conforto no colo da mãe ou pelo peito pra mamar, nossa primeira "refeição" -olha eu falando de comida aqui de novo... é a fome.
Só que nossas expectativas nem sempre são preenchidas. E isso desde quando, à noite, choramos de fome e parece que nosso alimento não vem (mãe tem que dormir, um dia eu ainda vou saber disso na pele!). E assim vamos seguindo uma vida de frustrações, e não só de preenchimentos de desejos e vontades: e será que seria bom termos todas as nossas vontades satisfeitas? E, mais do que isso, será que isso é possível? Pois o mundo, e a natureza, se encarregam de nos frustrar, de algum jeito. Seja com uma chuva no dia de Ano Novo, seja com uma enchente que derruba casas, famílias e sonhos.
Bom...
Minha comida ficou pronta! Fui!

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Aproveitando a sesta...



[Imagem: Van Gogh, Noite estrelada - Arles, (1888) óleo sobre tela, Musée d'Orsay]
... e desejando um Feliz Natal pra todos! E que pequenos milagres sejam feitos neste dia e nos próximos que virão.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Cria+atividade



[Imagem: arquivo pessoal]
Há algumas semanas, talvez duas ou três, a capa da revista IstoÉ falava sobre criatividade: o que a ciência diz sobre ela e dicas para desenvolver o seu potencial criativo, deixando-a fluir e se manifestar. Eu não li a matéria toda (benditos sejam os designers de infográficos!), mas eram, no geral, informações que eu já tinha, por gostar de estudar o cérebro humano -ainda que apenas o quanto minha disposição e boa vontade permite.
De qualquer maneira, uma das dicas (na verdade, a peça-chave) para "liberar a criatividade" escrita na matéria é dar-se tempo: ao tentar resolver um problema, por exemplo, parar de pensar nele e se distrair com algo prazeroso, porque a solução surge mais facilmente. Para isso, é preciso primeiro ter um tempo de ócio, por assim dizer, a fim de que as idéias surjam.
Bem, sou muito a favor dessa "técnica" (Essas palavras mecanicistas na verdade me deixam com um pouco de medo e receio, porque um lado meu não quer desvendar os mistérios da nossa mente e de todos os fenômenos que ela "cria", mas não vou me prender muito a esses comentários, pois o texto ficaria todo cheio de aspas).
Aonde quero chegar é ao dizer que este momento de férias é um bom momento pra permitir que idéias loucas surjam, sejam elas relacionadas a projetos profissionais, pessoais, ou a projeto nenhum -que sejam apenas uma boa diversão nessa vida nossa de cada dia, que está tão difícil, mas tão difícil, que Papai Noel já quer ser chamado só de Noel pra não ter que pagar pensão.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Capitu (ou flor cândida e pura)


[Imagem: www.abril.com.br -sei que é meio óbvio colocar os olhos da Maria Fernanda Cândido, mas eu concordo que ela tem tudo a ver com a personagem! E olhem o sobrenome dela e o título da postagem!]
Esta semana está passando na Globo a minissérie "Capitu". Acho que não sou a única a achar que essas minisséries da Globo (como "Hoje é dia de Maria" etc) devem ser muito boas, mas ficam injustamente num horário horrível de se assistir. Confesso que, neste horário e em férias, me encontrarão em frente ao computador, mas enfim: é um horário infeliz e pronto. Eu acabo nunca assistindo mais do que um capítulo -e nunca inteiro.

Mas calhou que, alguns minutos atrás, estava eu escovando os dentes e a minissérie começou. Falou sobre o sacerdócio de Bentinho e, depois, sobre o soneto que ele nunca escreveu, mas do qual escreveu dois versos, o primeiro e o último, numa noite de inspiração. Esta não-realização, talvez menos castigada por si mesmo do que o emplastro (ou a vida sem sentido e sem filhos) de Brás Cubas, não deixou de ser, para a vítima dos olhos de ressaca, uma frustração. O primeiro verso, "Oh! flor do céu oh! flor cândida e pura", e o último "Perde-se a vida, ganha-se a batalha" (logo em seguida trocadas as posições dos versos pelo próprio Bentinho, futuro Dom Casmurro), foram as únicas partes que ele conseguiu escrever de um soneto.

Eu me lembrava direitinho desta parte do livro (que, confesso com a maior vergonha, nunca terminei de ler). O motivo? Não sei exatamente, mas talvez seja porque, metida a "aventureira de papel e lápis" que sou, na época me coloquei a ajudar Bentinho e aceitar sua oferta: completei o recheio do soneto, exatamente nos dias 16 e 17 de março de 2002 (!). Espero que ninguém entenda isso como uma heresia ou algo assim, foi só para me divertir mesmo.


Soneto para olhos de ressaca

Oh! flor do céu oh! flor cândida e pura!
Contigo novamente à noite sonhara
e te faço ser pra sempre uma ave rara
nesta fonte inesgotável de loucura!

E como prova desta vil amargura
pois tão longe me encontro, e o som dispara
deste sino, ao sacerdócio a mãe mandara
sem poder contemplar-te a formosura,

escrevo-te estes versos sem saúde...
perdoe, musa, a simetria toda falha-
que falta faz o tocar do alaúde!
Mas digo que, pra não vestir essa mortalha,
e expirar pela metade, sem gozar da plenitude,
ganha-se a vida, perde-se a batalha!

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Lixo psíquico (ou mensagem de fim de ano)


[Imagem do site www.jbrj.gov.br]
O termo "lixo psíquico" é de Maria Elizabeth Pacual do Valle, e o encontrei num livro chamado "Grupoterapias: abordagens atuais", de Luis Carlos Osorio. Copio aqui um parágrafo, em que ele fala do profissional que tem que cuidar do outro (psicólogo, médico etc), mas que vale pra todo mundo:

"Por lixo psíquico entendemos tudo aquilo que é reprimido, não expresso ou acumulado sob a forma de ressentimentos, angústias e frustrações e que irá poluir nossa relação com os outros e intoxicar nossa mente. Aquilo, enfim, que faz com que, em nosso cotidiano, haja mais sofrimento do que o inevitável e que decorre, por exemplo, do modo como exacerbamos nossos sentimentos de culpa, superdimensionamos nossos erros, incrementamos a auto-piedade, focamos nossa atenção no que de negativo nos acontece ou ainda transformamos a admiração em inveja, a competição em rivalidade ou opiniões divergentes em hostilidade. Dizendo de outra maneira, é a sobrecarga que adicionamos ao que é o fardo cujo transporte é inerente à tarefa que realizamos"


É, gente... Nessa era em que nossa bandeira é a ecologia, nada melhor que começar limpando nossos próprios lixos psíquicos! É essa minha mensagem de fim de ano letivo (que, aliás, foi meu último...) Beijos.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Poesia de outro (ou Ouçam Little Joy)


Evaporar (R. Amarante)


Tempo a gente tem

Quanto a gente dá

Corre o que correr,

Custe o que custar...


Tempo a gente dá

Quanto a gente tem

Custa o que correr,

Corre o que custar...


O tempo que eu perdi

Só agora eu sei

Aprender a dar

Foi o que ganhei


E ando ainda atrás

Desse tempo

Tempo de não correr,

Nem de me encontrar,


Ah... não se mexer!

Beija-flor no ar

O rio fica lá

A água que correu

Chega na maré,

Ele vira mar...


Como se morrer

Fosse desaguar!

Derramar no céu,

Se purificar...


Ah... deixar pra trás,

Sais e minerais,


Evaporar...
[PS: a fotografia é minha]

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Eu tinha que escrever (ou Janta)


Há vários motivos ideológicos para eu não escrever sobre isso; mas também há um único que foi o predominante para que eu decidisse escrever - o tema, o que também é, de certa forma, ideológico. Claro que, somado ao tema, há também meu interesse pessoal por pelo menos um dos dois integrantes - não posso dizer que haja uma "conexão", pois ela implicaria dois envolvidos, mas posso dizer de uma "ligação unilateral", se é que isso é, por sua vez, possível. Na verdade, pensando melhor, há uma conexão sim: ele me transmite algo, que eu tento lhe devolver da forma mais abstrata e intuitível que existe, no meio do coletivo das milhares de pessoas que sentem como eu o que de tão bom ele nos passa.
Enfim.
O tema -que é o Amor, nada mais e nada menos -. nunca passa incólume (é a segunda vez que uso essa palavra no blog; a primeira foi na postagem chamada "Saudade", que, por coincidência, é o mesmo nome de uma música dele que estou ouvindo agora). O Amor pode despertar estranhamento, medo, furor, raiva, ciúmes, inveja. Parece ser (só parece, pois os poetas tentam defini-lo quase que em vão) um sentimento de calmaria que é resultante da anulação das energias tão intensas dos demais sentimentos que ele causa. E, claro, o Amor mais desejado, o que abalaria as estruturas do viver social, é o mais rejeitado.
Já li e ouvi comentários de todo o tipo, inclusive de que a relação entre eles é de uma violação do mais velho - que talvez estivesse juntando bagagem para receber um novo amor, um amor novo como o dela - para a mais nova - que foi menos maculada pelas dores e pelos calos, e que ainda é capaz de chorar de alegria, de transbordamento de Amor puro, como elamesma disse. Mas a violação (e a violência) ocorre quando um lado é forçado a fazer algo que não quer; e o lado que não quer, o lado vítima, é o do Amor; o verdadeiro cometedor de violência é o lado das opiniões cheias de paixão furiosa, que não aceita que esse próprio Amor está dentro de si.