quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Com o que se escreve

Não precisaria dizer (mas já acabei dizendo) que faz muito tempo que não escrevo aqui. Sinto uma culpa enorme quando isso acontece - o que explica a tag "Desculpas ao blog" - e acho que ela, essa culpa, por si só, merece uma postagem.
É claro que nem sempre conseguimos fazer tudo a que nos propomos. Aliás, dificilmente temos a sensação de dever 100% cumprido: é mais comum pensarmos que faltou algo, ou então darmos de ombros e dizermos "vai como está, mesmo". A plenitude é um estado raro de se alcançar.
Sinto um prazer enorme quando termino um texto. E o término, por si só, envolve etapas que, num crescendo, culminam com a aceitação total da postagem - vezes e vezes, volto à edição e acrescento uma palavra, retiro outra, corrijo um erro atencional. E, por fim, permito-me o regozijo de pensar: "Agora, sim!". Este prazer não depende da quantidade de palavras, parágrafos ou da complexidade do tema. O prazer vem justamente por ter feito a minha parte e, obviamente, estar minimamente satisfeita com o resultado.
Acontece que, justamente pela raridade da plenitude, o prazer por ela sentido não pode ser buscado a torto e a direito: ele também parece ter todo um ritual, um momento certo. Evito ler outros blogs, fico em silêncio ou com uma música que não me desconcentre, procuro lembrar que fato ou lembrança, nos últimos dias, me despertou o desejo de escrever a respeito... E, principalmente, preciso sentir uma pressão e uma organização mental mínima para conseguir colocar em palavras o que mais se sente do que se verbaliza. Ou seja, há uma conjunção ideal de fatores para acontecer. Quase como um eclipse.
Espero, em 2011, escrever com frequência maior do que a desse fenômeno astronômico.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

02-11-.


Dia de Finados.
Como disse alguém no twitter, "hoje é o único dia do ano que morto ainda é chamado de finado". Concordo. Ninguém mais usa esse termo. E não acredito também que muita gente use esse dia pra dedicar um tempo aos mortos, ops, aos finados. Duvido até que algumas crianças saibam o que significa a data. Pai, quem foi Finados?
A cada frase que escrevo, desconfio mais de que já escrevi sobre este dia aqui no blog, provavelmente no ano passado. Mas não quero conferir, a História é feita de recontos, aumento de pontos, e no meu caso quero que seja de pontos de vista.
Minha casa fica a um quarteirão do cemitério da cidade. Eu cresci tendo por vista aquelas caixinhas encrustadas na terra, sobre as quais pendiam cruzes ou estátuas de anjos. Árvores grandes, sempre cheias de folhas, preenchiam os buracos da paisagem.
Sempre fui a pé ao cemitério, junto com meus pais, como fiz hoje. No caminho, fomos encontrando conhecidos, pessoas que não se via há tempos, pessoas mudadas que forçavam a memória a retomar aquele sorriso, aquele jeito de andar, para poder reconhecê-las a despeito dos cabelos mais brancos, das costas mais arqueadas, ou mesmo das roupas mais coloridas, do aperto mais firme das mãos. O caminho pode ser triste ou feliz, independentemente do quão íngreme é a descida. Dia de Finados pode significar reencontro não só dos que se foram, mas também dos que só estiveram longe por um tempo.
Chegando lá, leitora de tudo o que tenha significado, começava eu a olhar as placas com as datas de nascimento e de falecimento, as estrelinhas e as cruzinhas antecedendo os dias-meses-anos. Hoje, repetindo o rito, notei como é possível fazer diversas combinações, cruzar datas, constatar coincidências às quais atribuímos significados, reencarnações, destinos.
Se parar pra pensar, acho importante manter esta constância, este prumo que não nos deixa escapar do que somos. Costumes que às vezes se perdem. Pessoas que parecem não ter existido, mas que estavam lá, registradas dentro de nós. Em algum lugar, ainda sou a menina que vai com os pais ao cemitério, a pé, e lê as datas e as plaquinhas das lápides. Pai, quem foi Finados?

terça-feira, 25 de maio de 2010

Ter resposta pra tudo


Sou daquelas pessoas que gostam de buscar respostas, entender fatos, ou, ao menos, criar hipóteses (aliás, às vezes acho que nossa vida inteira é uma grande hipótese). E, assim como a maioria de nós, caçadores de respostas perdidas, as soluções mágicas muitas vezes podem ser um atrativo.
E, quanto a isto, não me refiro apenas aos videntes e às cartomantes, aqueles cuja função na sociedade é justamente dar um alento para os que buscam insaciavelmente um controle ilusório sobre suas vidas. Além desse desejo, claro, tem que haver um certo prazer masoquista, porque saber seu próprio futuro nunca é garantia um de mar de rosas.
Mas falo aqui também de outros métodos para solucionar estes enigmas. Assim como ir a um astrólogo, fazer um exame genético pode identificar se temos tendência ou não a desenvolver um tipo de doença: então, em que diferem ambas as intenções?
Pensando sob este prisma, ciência e "achismo" se juntam em uma coisa só, muito mais existencialista do que eu mesma poderia supor ao escrever estas linhas: no fundo, todos queremos entender, afinal, que raios fazemos aqui, qual a nossa missão, ou, pelo menos, quem poderemos responsabilizar por nossos dramas e nossas burradas.
Porém, há aqueles que, vida leva, vida traz, acabam por pensar que findaram suas buscas, e que neles reside a verdade infinita, as explicações inteiramente plausíveis. A estas pessoas, muitas vezes dedicamos nossa admiração e nosso respeito, sem parar para ponderar se toda aquela maravilha pode mesmo ser verdade. Aliás, vemos-as como nossas verdades encarnadas.
Por quê isto acontece? Talvez por conta do grau de atração que exercem estas pessoas, um misto de admiração e inveja, conforto e medo, mas nunca indiferença; talvez, como já disse, pelo desejo profundo de controlar o que escapa, mesmo que isto envolva sofrimento; vários motivos a considerar (hipóteses). O que é certo é que nem todos poderão um dia atingir este patamar de dita sabedoria; ele é reservado para alguns, que por nós (e sobre nós) pagam o preço de não mais contar com o acaso, a surpresa, o desvelar de um segredo. Para eles, tudo fica banal, lógico, inevitável. Custa caro alcançar o final da meta que tanto almejamos.

sábado, 27 de março de 2010

Estou aqui, parada há longos minutos, tentando escrever algo.
Mas constatei que o que sinto agora não dá mais pra des-cifrar em palavras.

Dói, ao mesmo tempo que tem alegria.
Tem esperança, mas também um acorde menor de

Estranho... Esqueci a palavra.
...
...
...
..
..

sábado, 13 de março de 2010

O maravilhoso Alan Pauls, escritor argentino ("O passado"), ao comentar a vitória de "O segredo dos seus olhos", filme conterrâneo seu, de Juan José Campanella:
"Um filme não costuma ganhar porque é melhor - ele é melhor porque ganha. Os méritos não são a condição da vitória, mas sua consequência retroativa. Ademais, quando as únicas alternativas são ganhar ou perder, qualquer um pode ganhar ou perder."
Assim, desde que estejamos vivos, podemos morrer. Na dúvida, façamos-o intensamente. Acho que Glauco pensava assim.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Os brothers, os bafos e as burradas


Sou uma fã-sem-muito-orgulho do Big Brother Brasil. Daquelas que veem desde a primeira edição, mas, a cada começo de ano, há DEZ anos, diz: "Ah, esse ano eu não vou perder tempo vendo essa porcaria!". E, no fim (seria melhor dizer já no começo), acaba vendo, torcendo, chorando junto. Quem não gostaria de participar daquilo?

Mas, calma lá, não é essa a questão que quero levantar aqui - aliás, muito ultrapassada. O que quero falar é de uma das polêmicas que a edição 10 tem gerado: o casal Michel-Tessália.

Todo mundo já sabe que ele, editor de sites de fotos eróticas, tinha uma namorada, Karen, e que, em poucos dias de confinamento, não resistiu à chegada-chegando de Tessália, a Twittess do Twitter: os dois agora são unha e carne no programa, e anteontem já foram até flagrados em momentos mais íntimos sob o edredom.

Acontece que não só a sister é twitteira: a ex do loiro também é. E ela, claro, desabafou em menos de 140 caracteres um mínimo dos sentimentos que deve ter sentido quando, em rede nacional, se viu pura e totalmente traída pelo namorado.

Pronto. Virou comoção. Foi entrevistada no Fantástico e posou para o Paparazzo, linda e maravilhosa e com pouca roupa. Muitas mulheres já tomaram as dores, aderiram à campanha e não querem de jeito nenhum dar o R$1 milhão e meio para o casal.

E eu? Eu obviamente também tomei, de certo modo, as dores da Kaka. Principalmente se eu lembrar (e eu nunca lembro, porque nunca esqueço) que o heartbreaker é a cara do meu alvo libidinal. Assim como a maioria de nós, também sei o que é ter que virar a página. Mas é aí que reside a questão: virar a página não é fácil. Não é só umedecer a ponta dos dedos e, num levo movimento, vum!, virá-la. E esse processo é facilitado com um mínimo de compreensão por parte das pessoas ao nosso redor.

Acontece que, ao redor de uma figura pública, o que há? O Brasil inteiro! E, nessa hora, o que fazer? A partir do momento em que pessoas que você nem conhece passam a saber de sua intimidade, fica difícil passar por uma etapa em que, para superar, você precisa reencontrar a si mesma. E isso é algo que não estamos deixando que Karen enfrente. Ela tem todo o direito de enfiar o pé na jaca, mas nós não precisamos colocar a fruta à disposição do pé dela, como uma bola de futebol americano.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Mitos do amor


A IstoÉ desta semana traz nove mitos sobre o amor, aparentemente postos em terra por pesquisas científicas. Dentre eles, encontram-se: "Homens dão mais valor à parte física das mulheres e as mulheres ao status social dos homens"; "Relações proibidas são mais empolgantes"; "O romance e a paixão desaparecem com o tempo"; "O fim de um relacionamento é mais difícil para quem ainda está apaixonado"; "Brigas e críticas minam o casamento".

Honestamente, não sei se uma única pesquisa poderia explicar o que há detrás de tantas ideias vastamente disseminadas - e, portanto, a sabedoria popular ou senso-comum, alvo das refutações científicas. Entretanto, é muito claro que uma revista com tema de capa tão atraente venda bastante e sirva para debates entre amigos ao longo da semana.

Quanto a mim, aproveitei para ler sobre cada um dos nove mitos, me detendo especialmente no último: brigas e críticam minam o casamento (estendendo-o por conta para qualquer status de relacionamento amoroso). Sobre esta ideia, hoje se sabe que é muito pior esconder os sentimentos, e que uma conversa sem violência verbal ou física pode ser muito mais saudável.

Fato é que odeio brigar. Sempre fui da política de que, quando surjam os pepinos, que se os sanem antes de deitar a cabeça no travesseiro (ou as cabeças, para ser mais exata, partindo do talvez possível mito "Quando um não quer, dois não fazem"). Sempre fui ancorada pela fantasia de que, caso acontecesse algo ou comigo ou com a outra pessoa -morrer, no caso -, a outra ficaria para sempre muito arrependida de não ter feito as pazes.
Acontece que, hoje em dia, sei quem nem sempre é possível resolver tudo de um dia pro outro. Porque, adaptando a frase acima, quando um não quer se acertar, dois não se acertam. E sobram motivos para tal: teimosia, imaturidade, vingança, falta de interesse, etc. O difícil é quando a pessoa que quer se acertar fica presa a tais possibilidades e, ao invés de ganhar com a relação, sofre ônus.
Como, eu disse, odeio brigar. Mas o silêncio muitas vezes pode ser necessário para abrir nossos olhos.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Avatar, onde as mulheres não têm vez


Fui (atrasada, ok, mas eu já disse que estou de férias? hehehe) assistir "Avatar" 3D na tarde de ontem. Eu havia lido somente um pouco sobre o filme, e um dos comentários que ficaram gravados foi o de que James Cameron nos deu um "espetáculo para os olhos". Foi com esta expressão na cabeça que preenchi minhas expectativas e coloquei os óculos, no mínimo, empolgada.

Não me decepcionei. O filme é muito bonito e, claro, especialmente as cenas de voo (tanto dos personagens principais e seus animais alados cujo nome não guardei quanto de insetos e dos espíritos da Árvore Mãe). As pinturas de guerra e as tonalidades néon também ajudam muito, bem como os saltos vistos com câmeras ousadas e as cenas em que os avatares e os na'vis andam sobre os galhos a alturas imensas. Mesmo as metralhadoras e seus fogos são bonitas em 3D.

Não há como tirar os méritos de um trabalho tão cuidadoso, tão bem pensado, tão cultivado. Imagino o que deve ser dedicar anos para um projeto: a excitação, a sensação de controle, mas também a sensação de descontrole, o desânimo, a irritação, o enjoo. E, pra tudo dar certo, uma equipe enorme e um cérebro um pouquinho fora do comum (como provavelmente é o de James Cameron, comentário meu sem juízos de valor) contribuem demais.

Agora, a história. A história de Avatar não é mais do que se compreende de "Dança com Lobos", ou até "Pocahontas", ou tantas outras que falam de um intercâmbio cultural e a dificuldade de se entregar ao desconhecido frente a conflitos de interesses. A história feita por poucos, já que, por trás das decisões, existe a massa - o povo que, em uníssono, faz a voz de Deus e, também em conjunto, sofre as consequências gerais. Em Avatar, mostra-se também que, sem a união do povo, não se inverte uma posição desvantajosa. É sempre bom assistir à esperança coletiva, ainda que ela também possa, muitas vezes, transformar-se em exércitos.

Mas algo que me despertou lá pelas tantas do filme (que, aliás, é longo, doi um pouco a cabeça, mas tudo bem) foi o pensamento: "Ah, ok, há algumas personagens femininas no filme. Mas todas elas possuem uma força e um poder que não mostra o feminino tal como ele é. Mostra mulheres que tiveram que se adaptar a uma realidade dura, seja ela capitalista ou mítica, para poderem ser aceitas". Assim é Grace, a cientista durona, mas que também tem um lado materno ao alimentar Jake. Assim é a capitã que xinga, pilota helicópteros e se sacrifica pela causa. Assim é Neytiri, guerreira e que recebe o arco de seu pai moribundo. E assim é sua mãe, feiticeira respeitada por suas palavras que, na verdade, não são dela.

E é aí que reside a compensação desta falta marcada acima: o feminino reside totalmente em Eywa, a divindade maior dos Na'vi e a qual todos protegem, pois dela dependem para viver. São delas as palavras proferidas pela mãe de Neytiri. É a Mãe-Natureza o todo feminino do filme, eixo central do enredo, que sofre pela ganância dos homens e a falta de respeito por seu equilíbrio natural. Ela é mostrada como a maior prejudicada quando é incendiada e destruída, mas é também ela quem consegue revidar, reunindo a força de todos que dela dependem e que lhe são gratos (incrível, não são os seres humanos...!) para o golpe final.

Claro que Avatar chegou na hora certa, com o momento ecologicamente correto. Porém, também ali, é a guerra sendo vencida pela guerra. Na realidade, não sei se a Mãe-Natureza agiria por meio de exércitos ao invés de, talvez - quem sabe? -, enchentes e outros fenômenos que não são contra-ataques, mas sim consequências. Mas é que guerra é brincadeira de meninos grandes, e esse filme, no fim das contas, é para eles.

domingo, 17 de janeiro de 2010

A única coisa a falar agora


(Fotos: UOL)

Há somente uma coisa a se falar neste momento: como ajudar o Haiti.


Por mais que me envergonhe de fazer parte de um número tão grande (=massa), sou uma das pessoas que nunca antes havia parado para pensar seriamente sobre o país e as seguidas sofreguidões que viveu desde seu início - como uma criança que lutou para nascer, foi criada em um ambiente desfavorável e, por tudo isso e mais um pouco, tem que enfrentar muitos percalços rumo ao seu desenvolvimento.


Mas agora não é hora para criar tratados e teorias sobre os por quês de tanta tragédia: cada um de nós, pensadores, terá seu ponto de vista limitado para contribuir - antropólogos, sociólogos, historicistas, geólogos, psicólogos, filósofos, biólogos. A hora é de pôr as mãos na massa. E fazer a diferença, mesmo que com mãos invisíveis.


Achei alguns endereços para que possamos enviar ajuda. Não quero me sentir tão impotente frente a tudo o que está a meus olhos.
O Brasil enche de orgulho quando ajudamos tanto: está atrás apenas dos EUA em quantidade financeira de ajuda enviada por um país. E, mais do que isso, enviou equipes de resgate, equipamentos médicos e mantimentos. Vamos manter essa conquista, que é maior do que sediar copas e olimpíadas (na minha opinião).


Embaixada do Haiti no Brasil
Banco do Brasil
Agência 1606-3
Conta corrente 91.000-7
CNPJ 04170237/0001-71

Cruz Vermelha
HSBC
Agência 1276
Conta corrente 14526-84
CNPJ é 04359688/0001-51

Viva Rio
Banco do Brasil
Agência 1769-8
Conta corrente 5113-6
CNPJ 00343941/0001-28

Care Internacional Brasil
Banco Real-Santander
Agência 0373
Conta corrente 5756365-0
CNPJ 04180646/0001-59

Pastoral da Criança
HSBC
Agência 0058
Conta Corrente 12.345-53
CNPJ 00.975.471/0001-15

Caixa Econômica Federal*
Agência 0647
Conta corrente 3.600-1
CNPJ 00.360.305
* As doações da Caixa serão encaminhadas à Coordenação de Assistência Humanitária (Ocha, na sigla em inglês) pelo Programa Mundial de Alimentação (PMA) da Organização das Nações Unidas (ONU) e pelo Escritório das Nações Unidas.

Médicos Sem Fronteiras
Banco Bradesco
Agência 3060-0
Conta Corrente 111036-5