Fui (atrasada, ok, mas eu já disse que estou de férias? hehehe) assistir "Avatar" 3D na tarde de ontem. Eu havia lido somente um pouco sobre o filme, e um dos comentários que ficaram gravados foi o de que James Cameron nos deu um "espetáculo para os olhos". Foi com esta expressão na cabeça que preenchi minhas expectativas e coloquei os óculos, no mínimo, empolgada.
Não me decepcionei. O filme é muito bonito e, claro, especialmente as cenas de voo (tanto dos personagens principais e seus animais alados cujo nome não guardei quanto de insetos e dos espíritos da Árvore Mãe). As pinturas de guerra e as tonalidades néon também ajudam muito, bem como os saltos vistos com câmeras ousadas e as cenas em que os avatares e os na'vis andam sobre os galhos a alturas imensas. Mesmo as metralhadoras e seus fogos são bonitas em 3D.
Não há como tirar os méritos de um trabalho tão cuidadoso, tão bem pensado, tão cultivado. Imagino o que deve ser dedicar anos para um projeto: a excitação, a sensação de controle, mas também a sensação de descontrole, o desânimo, a irritação, o enjoo. E, pra tudo dar certo, uma equipe enorme e um cérebro um pouquinho fora do comum (como provavelmente é o de James Cameron, comentário meu sem juízos de valor) contribuem demais.
Agora, a história. A história de Avatar não é mais do que se compreende de "Dança com Lobos", ou até "Pocahontas", ou tantas outras que falam de um intercâmbio cultural e a dificuldade de se entregar ao desconhecido frente a conflitos de interesses. A história feita por poucos, já que, por trás das decisões, existe a massa - o povo que, em uníssono, faz a voz de Deus e, também em conjunto, sofre as consequências gerais. Em Avatar, mostra-se também que, sem a união do povo, não se inverte uma posição desvantajosa. É sempre bom assistir à esperança coletiva, ainda que ela também possa, muitas vezes, transformar-se em exércitos.
Mas algo que me despertou lá pelas tantas do filme (que, aliás, é longo, doi um pouco a cabeça, mas tudo bem) foi o pensamento: "Ah, ok, há algumas personagens femininas no filme. Mas todas elas possuem uma força e um poder que não mostra o feminino tal como ele é. Mostra mulheres que tiveram que se adaptar a uma realidade dura, seja ela capitalista ou mítica, para poderem ser aceitas". Assim é Grace, a cientista durona, mas que também tem um lado materno ao alimentar Jake. Assim é a capitã que xinga, pilota helicópteros e se sacrifica pela causa. Assim é Neytiri, guerreira e que recebe o arco de seu pai moribundo. E assim é sua mãe, feiticeira respeitada por suas palavras que, na verdade, não são dela.
E é aí que reside a compensação desta falta marcada acima: o feminino reside totalmente em Eywa, a divindade maior dos Na'vi e a qual todos protegem, pois dela dependem para viver. São delas as palavras proferidas pela mãe de Neytiri. É a Mãe-Natureza o todo feminino do filme, eixo central do enredo, que sofre pela ganância dos homens e a falta de respeito por seu equilíbrio natural. Ela é mostrada como a maior prejudicada quando é incendiada e destruída, mas é também ela quem consegue revidar, reunindo a força de todos que dela dependem e que lhe são gratos (incrível, não são os seres humanos...!) para o golpe final.
Claro que Avatar chegou na hora certa, com o momento ecologicamente correto. Porém, também ali, é a guerra sendo vencida pela guerra. Na realidade, não sei se a Mãe-Natureza agiria por meio de exércitos ao invés de, talvez - quem sabe? -, enchentes e outros fenômenos que não são contra-ataques, mas sim consequências. Mas é que guerra é brincadeira de meninos grandes, e esse filme, no fim das contas, é para eles.
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