terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Meus Tops de 2009 - mais

(Mais Beatriz...)

Continuando meus tops...

***TOP MÚSICAS PRA CORRER NA ESTEIRA***
(esse é meio besta, mas juro que é uma busca
complexa e muito apaixonante!)


3º: Hot 'N Cold, Katy Perry. Porque é legal se imaginar correndo como ela no cideoclipe, vestida de noiva e enlouquecida de raiva.
2º: Damn Girl, Justin e Will.I.Am. Essa música é demais, demorei pra gostar, mas agora sou louca por ela.
1º: I Gotta Feeling, Black Eyed Peas. Aliás, BEP vale qualquer uma! Mas essa vale pelo "Mazel Tov!", anima até defunto!


***TOP POSTAGENS DO INFINITO***

(esse não podia faltar)

3º: Do amor. Esteticamente, é uma postagem linda. O texto não tá aquela maravilha, mas talvez fosse por estar inebriada pelo perfume.
2º: A beleza. Foi o que deu um start pra eu começar a falar de amor aqui. Ou será que eu já falava e não percebia?
1º: Desatando nós. Nada como uma ostra com dor pra produzir uma pérola (mas a ostra tem que ter um quê de trágica).
É legal olhar as postagens, em ordem, pra entender um pouco o meu percurso ao longo deste ano... Fim de ano é importante pra isso: observar, ponderar, avaliar o que fizemos.

sábado, 26 de dezembro de 2009

Meus Tops de 2009



[Beatriz Milhazes, "Noites de Verão"]

Nestes últimos dias do ano, quero tentar fazer um Top List bem particular, com o que eu considero legal de listar sobre o ano. 2009 está sendo MARA pra mim, tenho tido novas experiências e crescendo muito com elas. E as coisas que vivi não necessariamente têm o tamanho de uma descoberta científica, mas e daí? São minhas, então não há melhor lugar para falar delas...

*** TOP LIVROS***
(é claro que este não ia faltar, ainda mais para alguém como eu, que realmente lista os livros que leu durante o ano):

3º: "A outra vida de Catherine M.", de Catherine Millet. Não comentei antes sobre este livro por pura falta de tempo, mas ele é maravilhoso para toda mulher que ama (seja um homem, seja o trabalho, seja si mesma e seus desejos mais paradoxais) e entra em crise por isso.
2º: "Antes do baile verde", de Lygia Fagundes Telles. Este ano, não só conheci a Gi (amigona com quem vivo durante os dias úteis), mas também ela própria me apresentou um novo amor, que é essa escritora maravilhosa - as novas edições têm capa da Beatriz Milhazes. Genial. Que contos, que contos!
1º: "A insustentável leveza do ser", de Milan Kundera. Este me confortou em um momento não tão leve, e só sei que ainda quero lê-lo mais vezes. Sou tanto Teresa quanto Sabina. Assim como a Catherine lá de cima.
Menção honrosa a "Leite Derramado", do Chico Buarque, que terminei de ler há dois dias e já me apaixonei. Não entrou no top principalmente porque não teve tempo suficiente de virar amor.

*** TOP PROGRAMAS SOLITÁRIOS***
(já que foi um ano em que aprendi a ficar mais sozinha)

3º: Curso de Feminilidade na visão da teoria lacaniana. Esse parece impossível, mas é verdade. Frequentei o curso por conta, novamente em um momento não tão leve. E foi como me sentir preenchida, entendida. Nós, mulheres, somos essencialmente histéricas, buscando muitas vezes satisfazer ao desejo do outro - eis o enigma do nosso próprio desejo.
2º: Ida ao cinema para ver "Caramelo". Esse eu já comentei aqui, e até hoje me orgulho desse start!
1º: Período meio insano de academia. Já passou, infelizmente, mas eu vivi umas boas semanas num pique invejável para ir à academia do prédio à noite e ficar lá até o porteiro me mandar embora. O ruim é que eu não dormia muito, mas sinto falta daquela energia toda.
*** TOP PROGRAMAS COM COMPANHIA ***
(vai ter que ser de cabeça mesmo, acho que assim é que vale!)
3º: Praia com amigas da facul. Foram só dois dias, mas foram bem intensos, principalmente pelas conversas regadas a... líquidos. E ainda teve festinha da família da Lívia!
2º: Curitiba. Adorei a família da Gi, a cidade bonita e os lugares que conheci. Foram divertidíssimos, deliciosos mesmo!
1º: Minha formatura! Claro que tinha que estar no topo, pois minha serotonina estava a mil durante cada segundo daquela noite. Foi perfeita e merecida pra todos nós.
*** TOP PROMESSAS CUMPRIDAS ***
(há!, esse vai ser bom)
3º: Frequentar uma academia. Tudo bem que é furreca, e tudo bem que não frequento de modo assíduo. Mas, comparando com o ano de 2008, a coisa foi bem melhor!
2º: Dedicar muitos esforços no trabalho. Na verdade, confesso que esse não foi realmente um esforço, já que eu gosto tanto do que faço que fica fácil aprender. Mas estou colhendo meus frutos agora e claro que estou muito feliz.
1º: Aprender a cozinhar. Não preciso nem dizer que ainda não sou o Jamie Oliver, mas já consigo virar um omelete sem causar acidentes, fazer um arroz bem gostoso e legumes também. Enfim, o beabá da coisa finalmente foi concluído!
*** TOP PROMESSAS VAZIAS ***
(vou listar só três, mas sempre há muito mais do que eu
gostaria de ter feito e não fiz. Essas voltam pras Resoluções 2010)

3º: Voltar para as aulas de canto. Quero muito voltar a cantar e, claro, melhorar e me sentir mais segura. 2010 ninguém me segura, é assim mesmo que eu vou sublimar tudo!
2º: Emagrecer 6kg. Já nem me peso mais, mas sei que não rolou. Óbvio. Mesmo porquê, vivo oscilando sobre querer mesmo isso ou não - agora, no verão, é claro que eu queria.
1º: Dedicar-me mais ao trabalho. Acharam mesmo que eu me contento com o tanto que fiz?? Tolinhos!! Sei que fiz muito, mas tinha que ter estudado muito mais, feito muito mais. Sempre. Droga.
(Continua...)

domingo, 29 de novembro de 2009

Entubados (ou aguardando Alice de Tim Burton)


Em um dos (atualmente) raros momentos de "curta-seu-hobby", estava eu tocando violão, quando meu pai decidiu afiná-lo. Eis que vai ao computador, entra na internet, digita "youtube.com" e coloca na busca: "afinar violão".
Eu, que pareço mais velha que meu pai (digo isso não por achá-lo velho, mas sim pela contradição da frase), acho que não vai encontrar nada, e comento que os vídeos deveriam apenas mostrar propagandas de afinadores portáteis, ou algo que o valha. Eis que, do quarto de passar, ouço uma voz masculina explicando qual casa dedilhar para afinar a primeira corda, e então um som: dooong. E assim vai, mostrando passo-a-passo o processo que escuto desde pequena, que é o doce afinar das cordas, uma a uma, buscando a harmonia final.
Dei o braço a torcer, claro. Comentei algo como: dá pra achar de tudo aí hoje em dia, ao que meu pai concordou e, logo após conseguir que minha cantoria soasse menos desafinada por conta da afinação do acompanhamento, passou a procurar músicas das décadas passadas. "Como eram bonitas! As de hoje não dá nem pra aguentar".
Foi então que me lembrei da minha busca, no ano passado, por algo como "pontos de tricô": realmente encontrei diversas aulas, que não substituiriam um professor ao vivo (como minha tia, que me ensinou de modo muito mais preciso as laçadas e os nós na lã), mas servem pra quem tem mais disposição e persistência para rever o mesmo vídeo on and on do que tempo ou contatos sociais para tomar umas aulinhas.

Pensando assim, vale muito a pena! Em uma busca rápida, encontrei vídeos que ensinam como "lavar os cabelos", "depilar perna", "tirar respingos de tinta da pintura do carro", "dançar macarena", "desenhar sketches", "tirar fotos", "fazer sorvete" e por aí vai. E, claro, também é possível disponibilizar seu próprio vídeo e ensinar à humanidade algo que seu talento domina, ou simplesmente que você ache importante que os outros vejam (ou não). Eu mesma - lembrei agora! -, tenho uns três vídeos disponibilizados, inclusive com a tal da cantoria...

Fato é que, em tempos de youtube, dá pra se ver de tudo: se o céu é o limite, esse céu é a imaginação de cada um. E ela pode nos levar a caminhos tão intensos quanto um filme de Tim Burton. É isso que tanto atrai quanto apavora quando sabemos que temos tanto poder ao alcance dos olhos.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Feriado


Hoje é feriado. Geralmente, o que perguntamos na véspera de cada um é: "O que fazer no feriado?", mas dificilmente nos lembramos primeiro das obrigações de cada data que se aproxima; já planejamos direto nossos prazeres, a viagem pra praia, o que levar ao sítio, aqueles filmes da Mostra, etc.

Hoje é dia de Finados. Nunca vi nenhuma pesquisa sobre o tema, mas acredito que, a cada ano, menos pessoas vão primeiro aos cemitérios e rezam uma missa para, somente depois, descer a serra. Por que isso acontece?

As respostas devem ser múltiplas. Desde as desculpas - falta de tempo; o trânsito que leva pra chegar aonde queremos já ocupa metade do lazer; stress; morar longe; ser fora de mão; ser fora de moda. As outras respostas, que esbarram mais em questões sócio-culturais, sugerem o abandono de hábitos, costumes, rituais, antes tão necessários.

Os rituais de passagem, como os velórios, as rezas, começaram a existir pela dificuldade (assim entendem os antropólogos) de lidar com a morte, inerentes ao homem - tanto a morte quanto a dificuldade. Assim, fazer oferendas, dedicar um lugar especial ao corpo, celebrar são formas de tornar a morte mais "palpável", mais "significável" - mais "controlável", no fim das contas. Fazer rituais, portanto, seria ter um mínimo de rédeas em algo que tanto nos assusta.

E será que, hoje em dia, realmente não precisamos mais deles? Será que conseguimos uma forma superior de lidar com o inevitável, elaboramos a coisa de um tal jeito que já entendemos o ininteligível? Ou será que simplesmente nos deixamos levar por outros interesses menos nobres e mais imediatistas, deixando de lado obrigações que nossos antepassados, há tanto tempo, sentiram necessidade de cumprir?

Para as crianças de hoje, que desde cedo entram em contato com cenas violentas de filmes de terror e de noticiários da vida real, não acredito que seria menos produtivo ir ao cemitério, com sua família, visitar os que já se foram. Saber um pouco, quem sabe, da história dos que estiveram aqui antes dela, e que, por isso, ajudaram a tornar o mundo do jeito que lhe foi apresentado ao nascer. Ou, ao menos, se familiarizar com os sons dos cantos nas capelas, o cheiro dos incensos, o silêncio dos túmulos. E, então, com as velas acesas, juntas as palmas das mãos e agradecer pela proteção e pelas bênçãos, e desejar que estejam em plena paz e serenidade.

sábado, 31 de outubro de 2009

Preenchendo vazios

A vida é permeada de encontros. No meio deles, em frestas multicor de flashes sobrepostos, há espaço para a anti-matéria da fortuna: os desencontros.
Desencontros são colisões, fenômenos de encontro e afastamento pareados em velocidade, igualmente velozes.
Mas, neste tráfego intenso, também residem ilhas de vácuo, vazios a se preencher. São os reencontros.
Eu também estava com saudades. Foi bom te encontrar. Mas agora preciso colidir novamente, até a próxima (ilha)!

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Aconchego


Aaah. Já passa da meia-noite. Sexta-feira. Peguei essa foto linda da minha prima Cá. Cansada, mas com saudades do meu blog. Aproveitando que meu inconsciente está me chamando pro mundo dos sonhos, vou tentar fazer aqui uma associação livre: dizer o que me vem à cabeça quando vejo essa imagem.
- Infância
- Liberdade
- Up! Altas aventuras (maravilhoso)
- Peter Pan
- Amizade
- Família
- Companhia
- Felicidade
- Amor
- Paixonites
- Cabeça nas nuvens
- Sonhos
- Por hoje, fui... Boa noite. Que, num país em que se roubam provas e o presidente não completou os estudos, só me resta dormir e tentar achar uma resposta pra minha persistência em tentar ser alguém na vida a partir do meu conhecimento.

domingo, 13 de setembro de 2009

Arquivos Corrompidos




Domingo é meu dia de ler revistas, jornais e atualizar meus blogs. Hoje pensei em escrever um pouco sobre a polêmica do Nelsinho Piquet (estranho chamá-lo de "Nelsinho" sendo que eu nem fã sou de corridas, para certa tristeza do meu pai). Eu ia dizer que é difícil fazer um julgamento sobre o fato de ele ter "denunciado" sua negociação com Briatore justamente e tão-somente depois de ver que a tal da negociação não lhe trouxe exatamente o que ele queria - ou seja, a renovação do contrato. Eu também ia dizer que, para os pilotos que teceram comentários sobre o ocorrido, como o Rubens (não preciso chamar de "Rubinho") Barrichello, que disse que aceitar esse tipo de acordo é antiesportivo e merece punição, só resta questionar o que é então acatar, ainda que forçosamente, ordens de deixar o companheiro vencer a corrida - e se o oposto disso seria, no mínimo, aceitar que alguns têm maior capacidade para vencer mais vezes do que outros. Aliás, ele ganhou hoje, que bom!




Mas resolvi também falar sobre a coluna do Zeca Baleiro ("Rede idiota"), na Istoé, que li corridamente (eufemismo para dizer que só passei os olhos, não li como deveria ler). Ele diz que vislumbra um futuro internético, com avatares cheios de opinião sobre todos os fatos, mas nunca rostos abertos, públicos, que assumam suas ideias. Diz também que ele não tem twitter, pois não é novela pra que o sigam. E fala da origem não muito bela e digna da internet, antes chamada Arpanet, na época da Guerra Fria.

Gosto de pensar as coisas numa perspectiva histórica. Compreender a História (por mais que nunca tivesse sido minha matéria favorita) nos ajuda a pensar no que ocorre agora. Isso tanto como indivíduos quanto como coletividade. Faz sentido demais pra negar.

Então, pensar na internet como um veículo ambíguo, que inicialmente serviu como arma de guerra e espionagem - e, portanto, atendendo a apenas um lado da luta - para depois tornar-se símbolo da globalização e da democracia, um lugar ao sol para todos e a disponibilização for free de produtos, marcas, corpos e ideias, pode ser uma nova forma de compreensão. Continuamos, assim como os espiões e agentes secretos de décadas atrás, passando através da "rede idiota" nossos segredos anonimamente, com a diferença de que, desta vez, os sussurros se dirigem, ao mesmo tempo, a todos e a ninguém. E, pensando assim, Nelsinho Piquet vai contra a maré das denúncias anônimas, expondo-se e colocando em risco uma paixão e uma profissão em prol da defesa de seus direitos. Que direitos são esses é outra questão e fica pra outra hora. Ou pra outro blogueiro anônimo.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Por quê eu gosto de Los Hermanos (10 motivos)




(capa do CD "Ventura")

Eu sempre tento explicar por quê eu gosto das coisas, sendo que não há motivos pra explicar as nossas preferências (ou há? acho que sim, mas eu sou teimosa, então vamos partir do pressuposto de que não). Já tentei aqui explicar, por exemplo, por quê gosto da série "Crepúsculo" (que, aliás, eu finalmente terminei de ler: fico devendo uma postagem a respeito). Enfim. Aqui eu tento falar de tudo o que gosto -e que tenho certeza de que não vou deixar de gostar depois que transcrever.
Eu gosto de Los Hermanos. Aquela banda, sabe? A da Anna Julia. A que muita gente olha as notícias, vê a comoção dos fãs e pensa: affe, esses roots/emo/indies deviam procurar o que fazer. A que entrou em "pausa por tempo indeterminado" há pouco mais de dois anos. Sinceramente, essa parte também me cansa um pouco. A da Anna Julia, a dos fãs chatos, a da espera incessante (essa me cansa menos, mas poxa, ninguém fica esperando que os Beatles voltem - aliás, eu também já fiz uma postagem polêmica, comparando as duas bandas, hehehe).
Vamos ao que interessa. Eu gosto de Los Hermanos porque:
1) da primeira vez que ouvi, a primeiríssima mesmo, não gostei. Porque eles ocupavam lugar no Disk MTV, que eu assistia por causa dos Backstreet Boys ou das Spice Girls. Mas aquela "Anna Julia não saía da cabeça. Ah, eu também não gostava muito da Mariana Ximenes. Mas eu gosto de mudar de ideia e mudei (sobre a banda, não tanto a Mariana Ximenes).
2) eu achava bonita a "Primavera" (Primavera se foi, e com ela meu amor/ Quem me dera poder consertar tudo o que fiz), mas era uma época que eu torcia o nariz pra músicas nacionais. No fundo, eu curtia.
3) da segunda vez que ouvi - não exatamente a segunda, mas depois de um bom intervalo de tempo -, foi porque meu ex-namorado e meu primo insistiram. Isso faz uns quatro anos (Cristo, nunca tinha parado pra contar!). Já disse que sou teimosa, então ignorei os comentários por mais um bocado de tempo. Até que, em tempos de Kazaa, Limewire etc., baixei "O vento".
4) quando ouvi "O vento", foi uma estranheza. Uma sensação de nostalgia, que hoje em dia assumo que está impressa em minha memória autobiográfica como desencadeador de prazer. Estimulações nervosas, atenção concentrada no som, novas conexões sinápticas e a livre associação com imagens bonitas. Na hora, baixei várias outras.
5) depois da primeira, foram "Primeiro andar", "Conversa de botas batidas", "Samba a dois", "Último romance", "O velho e o moço", "Sentimental"... Me interessava pelo título, prestava atenção nas letras. O ritmo me prendia, a harmonia dos instrumentos, a delicadeza da voz do Camelo e a boemia ultrasexappealaosmeusouvidos da voz do Amarante - timbres que, aliás, muita gente confude, mas eu me orgulho de não confundir ever.
6) as letras casam com o que sinto, o que penso, além de terem trazido novas visões. de paz e de estranheza. Tem uma prima (a mesma que tem medo da menina do blog!) que diz que as músicas deles lhe dão dor de barriga. Acho que é pela estranheza. Eu sempre gostei de cólicas (hoje não gosto tanto) e de dores musculares. Eu gosto do que é estranho - o que se contradiz à minha teimosia, que nada mais é do que a intolerância frente ao que não é comum, que é "estrangeiro", "strange", "estranho". Vai ver, também sou estranha.
7) tenho lembranças afetivas quando ouço Los Hermanos. Algumas bem ruins, o que me fizeram sacrificar uma ou duas músicas que nunca mais ouvi. Mas a maioria boas, que não são realmente nomeadas ou claramente explicadas. Árvores, chinelo, verão, paralelepípedo, mãos dadas and so on... Uma cadeia de significantes, com todos os seus hiatos.
8) os shows são maravilhosos. São homens exalando amor (isso foi hippie demais, realmente. Sorry. Mas os shows são inexplicáveis, tem que ir pra ver. Fui em três, incluindo um no Pão de Açúcar e um de despedida, na Fundição Progresso).
9) por começar a gostar deles, comecei a me interessar mais por música brasileira. Um amor atrai o outro. Marisa Monte, Mombojó, Adriana Calcanhoto, Roberta Sá, Caetano Veloso, Chico Buarque, Céu, Roberto Carlos...
10) me faz chorar - e é feito pra rir (final da música "Cher Antoine").

Casando...



Ontem teve casamento. O primeiro da minha turma de amigos do colégio, a Galerinha do Mal, como um deles batizou. A Dri, a amiga que casou, é um dos amores da minha vida, daquelas pessoas especiais e que me fazem bem mesmo à distância, porque se preocupam comigo e, mesmo nos draminhas burgueses dos quais ela pouco faz parte, consegue me dar um norte porque me faz lembrar quem eu sou e sempre fui.
O casamento foi lindo. Me fez pensar em como o amor é algo sagrado e que, por mais que em alguns momentos olhemos em volta e vejamos muitos deles sendo destruídos (sem identificar culpados reais), fico tranquila de saber que sempre haverá momentos como os que vivi ontem, olhando para eles e sabendo que, sim, há sempre a intenção verdadeira de que ele dê certo.
Ah, claro! E eu fui madrinha!!!

domingo, 30 de agosto de 2009

Pílula de Pensamento 4


"A ciência se propõe a ver o passado e o futuro, mas só a arte consegue ver o presente."


Enviado de meu iPhone

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Do Amor I




Muitas vezes me pego pensando o que é o amor. Talvez porque essa palavra estampe mais da metade dos títulos de filmes românticos, surja em pelo menos 99% das músicas sertanejas, tenha mil e uma conotações e usos possíveis que, além de tudo, são muito bem aproveitados pela indústria do consumo. O amor vende.

Um tempinho atrás, descobri que uma amiga fez um blog que falava de amor. Mas ela fez uma ou duas postagens, deixando-o pra trás junto com um rompimento amoroso. Não é fácil falar de amor.

Mais fácil mesmo parece ser pensar sobre ele. Teorizar sobre algo que nem sequer conseguimos bem definir. Aos poucos, vou me deparando com ideias a respeito: de Stendhal a Comte-Sponville, agora vejo uma no meu livro sobre desenvolvimento humano, comprado no meio da faculdade, e que resolvi olhar com mais atenção só agora.

R.J. Sternberg, em 1985, criou a "Teoria Triangular do Amor". Por mais que, de cara, pareça algo favorável à poligamia, não é bem isso o que o autor (ou autora, não sei) defende; a teoria fala, na verdade, que o amor possui padrões, e que eles sempre dependem de três elementos. Os três são: a intimidade, a paixão e o comprometimento.

E, assim, Sternberg fala do não-amor (quando não há nenhum dos três, e que abarca a maioria dos relacionamentos interpessoais), da afeição (só há intimidade), a paixão louca (só há paixão), o amor vazio (só há comprometimento). Também há o amor romântico (paixão e intimidade, porém sem comprometimento), o amor companheiro (intimidade e compromentimento, sem paixão) e amor ilusório (há paixão e comprometimento, mas não intimidade). E, claro, o amor consumado (paixão+intimidade+comprometimento, que é, segundo Sternberg, mais fácil alcançar do que manter).

A princípio, pensei ser muito reconfortante olhar assim, categorizadas, as formas de amar e se relacionar - e que, imagino eu, só podem ser definidas depois de algum tempo. No entanto, logo comecei a ficar um pouco confusa: como podemos dizer que amamos um amor de tipo "vazio"? Será que o amor só por comprometimento, sem intimidade nem paixão, pode ser chamado de amor? A mesma coisa para o amor ilusório, e assim vai. Talvez o amor companheiro e o amor romântico sejam mais aceitos. Porém, olhando-os em categorias, vemos que eles ainda são capengas: nenhum chega aos (tri)pés do amor consumado. Hoje, com tantas pessoas tentando (co)existir, fica difícil ser único; por isso, nos especializamos cada vez mais em uma coisa só. O amor pode ser especializado?

E aí, será que é amor? Será que amamos? Não sei... Talvez aquela propaganda de perfume possa me responder, assim que eu comprar um frasco, irresistível e deliciosamente desenhado. Mas aí já não sei se quero saber; talvez esse amor engarrafado não faça o meu tipo. E nem aquele outro.

Fico sem saber.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

My Blueberry Nights


Hoje assisti a esse filme de Won-Kar-Wai de 2006, traduzido por "Um beijo roubado", com a Norah Jones e o Jude Law. Ele fala de uma mulher que, perdida por ter sido trocada por outra (não achei termo melhor), começa a conversar com o dono de um café que já viveu algumas coisas, vendo-as então de outro ponto de vista ou, pelo menos, deixando-as mais leves pra ela, recém-ferida. Ela decide viajar para se encontrar, mantendo contato com ele por postais e cartas, enquanto ele a procura incessantemente por telefonemas e também postais, sempre sem sair do lugar - caso ela volte.
Não sei direito o que falar sobre o filme sem acabar contando o final ou sendo repetitiva (falando quase a mesma coisa do que o "Caramelo" na antepenúltima postagem). Mas vale a pena assistir, principalmente por quatro motivos: 1) a estreia na atuação de Norah Jones; 2) a atuação de David Strathairn; 3) a trilha sonora e 4) o tal do 'beijo roubado', maravilhoso - e não só porque envolve o ainda mais maravilhoso Jude Law: sim porque ele tastes tão delicioso quanto uma blueberry pie.

domingo, 26 de julho de 2009

Sobre esta menina do blog

Minha prima tem medo dela, mas eu gosto demais desta menina do blog. Ela está de costas pra nós, mas de frente para o caminho que quer trilhar. Olha para onde pisa, mas sabe de cor as coordenadas para seguir em frente, sabendo também que pode alterá-las quando achar melhor. Sempre busca se equilibrar, mas se sempre busca, é porque nunca consegue totalmente (que bom). Tem no vestido as marcas do caminho pelo qual atravessa, da cidade, da mãe, do pai. Flores e terra áspera.
Gosto de suas cores. Gosto de não sabê-la de frente, mas ao mesmo tempo poder imaginar. Sei que se parece comigo. E, por isso, faço eu parte de seu ambiente, de sua terra e suas flores. Sou eu naquele vestido e no caminho, e no andar hesistante, na cor dos cabelos. Sou eu nestas cores, quem segue a trilha porque quer, tendo certeza passo a passo de saber onde pisar.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Caramelo


São dez quase em ponto, e eu acabei de voltar do cinema. Assisti ao “Caramelo”, um filme franco-libanês que fala da vida de mulheres de diferentes idades, porém do mesmo bairro, unidas pela amizade e pela busca pelo amor – seja ele amor por um homem, por outra mulher, pela família, uma pela outra ou por si mesmas. Pra mim, o filme também fala de escolhas que fazemos e as conseqüências delas de modo sério, visto que, em “Caramelo”, elas nos acompanham por anos e, se não forem substituídas (o que parece ficar cada vez mais difícil), permanecem por toda a nossa vida e se tornam nossa vida.

O filme traz personagens lindas e uma delicadeza que surge dos olhares, da fotografia, das canções e das texturas (especialmente das rendas e do caramelo do título, que é doce e dor ao mesmo tempo, pois é o material da cera de depilar feita por uma das personagens em seu salão de beleza). Enfim a beleza (que não à toa é uma palavra feminina) está em toda parte da história.
Engraçado que, enquanto as personagens principais trazem uma certa tristeza que as leva a buscar o outro, as mulheres que, em tese, encontraram alguém com quem viver por todos os dias (ou “por” quem viver “com” todos os dias...) são desenganadas. Disso tudo, portanto, resta o desengano das principais, que buscam no outro uma falta a ser preenchida e que na verdade não existe.

Jean-Jacques Lacan, psicanalista francês, dizia que a mulher não existe. Não existe à medida que seus desejos se voltam para a satisfação de outrem, pois assim se constitui: a mulher tem uma falta primordial que nunca é preenchida. Simone de Beauvoir dizia que não se nasce mulher, torna-se uma. A mulher é uma construção e, portanto, uma busca eterna. Se ela não existe, também nunca termina.

E é por tudo isso que fui ao cinema sozinha, pela primeira vez.

sábado, 27 de junho de 2009

Desatando nós

Nem sempre as coisas saem como a gente espera, prevê, imagina ou deseja.
Muitas vezes, temos a impressão de que esse fato que muda nossas expectativas é uma surpresa, que irrompe no nosso cotidiano e nos deixa à mercê do desconhecido, vagando por lugares dos quais não nos sentimos pertencentes.
No entanto, em outros momentos podemos pensar o contrário: que houveram sinais vagos, sinais difusos, sinais claros, sinais óbvios de que essas águas desembocariam inevitavelmente aonde foram tornadas, transformadas. E, então, cada um pode sentir o que melhor lhe aprouver: raiva, humilhação, culpa, clareza, contentamento, alívio. Meio que "vai da fé" de cada um.
Pode ser confortador, aconchegante fazer esse exercício, sentir que, de algum modo (i.e., por meio da reflexão, da racionalização, das explicações por vezes ilógicas aos olhos de outrem) - pra muitos e outros, o acaso se mantém sob nosso controle.
E, na mesma maré onde se espalham estes extremos ao mesmo tempo tão próximos, repousam gamas de sentimentos, que nos confudem e atormentam, trazendo à tona ora desejos de naufrágio, ora fôlego para mais braçadas.
Os passos que damos geralmente nos passam despercebidos, a não ser quando têm de ser muito largos, quase saltos. E mesmo estes podem ser tão brevemente esquecidos que nem sabemos que alguma vez os lembramos.

***

Finalizando com a frase de Catherine Millet (que estará na Flip deste ano e, infelizmente, eu não dei meus pulos pra ir) que li em entrevista para a Folha de São Paulo:
"quando você escreve sua vida, ela se torna qualquer coisa da qual você não faz mais parte."

sábado, 23 de maio de 2009

So(u)letrando


Pra ser sincera, não sou super fã do Luciano Huck. Mas muitas vezes assisto ao Caldeirão pra acompanhar minha mãe, que gosta mais do que eu. E, claro, muitas vezes chorei nos quadros à la Pimp My Ride e Extreme Makeover (Lata Velha e Lar Doce Lar). Podem não ser mega originais (mas o paradigma da televisão é mesmo imitar, não é?), mas sempre me comovem.
Talvez por isso sejam tão imitados: os dramas são universais. A gente adora, por um motivo ou outro, ver alguém passando por uma situação difícil de resolver e, de repente, uma ajuda praticamente cai do céu, resolve o problema em uma semana -aliás, o fato de todas essas transformações destes programas ocorrerem em 7 dias não é à toa, né? "E no começo tudo eram caos..."
Mas hoje não era dia de nenhum desses. O quadro a que eu assisti foi o Soletrando, em que crianças selecionadas de todos os Estados do País concorrem a uma bolsa de estudos de 100 mil reais (ou seja, 1/10 do que a gente dá pro campeão do BBB). Eles têm que estudar bastante, ler obras e dicionários, estar familiarizados com nossa língua, além de ter concentração pra não se perder na hora de falar, letra por letra, alguma palavra muitas vezes complicada ou termos nunca dantes utilizados. Quem soletrar errado, está fora -a não ser que todos os adversários também errem na mesma rodada, o que raramente acontece.
Acontece que eu sempre me emociono também no Soletrando! Porque, ao ser eliminada, a criança fica muito chateada consigo mesma: ela falhou, está fora da competição, desapontou colegas, professores... e pais. Sim, eles sempre estão lá, vibrando pelos filhos, e não raramente também fazem a mesma cara de frustração. Já vi pais sorrindo do mesmo jeito, pais chorando e pais absolutamente sérios, intocáveis, quando s filhos saem das cabines e têm de ir embora pra casa sem o troféu e com a cabeça baixa.
Acho que todos nós sabemos como é ruim sentir que não conseguimos orgulhar nossos pais: eu, pessoalmente, sinto a dor de cada uma das crianças que têm que sair do programa. Não que eu não ache útil introduzi-las numa competição saudável, mas quanto mais alto se está (venceram todos de seu Estado e estão competindo num programa de tv), mais intensa a queda. E eu temo que nem sempre haja um colchão suficientemente forte lá embaixo pra ampará-las e mostrá-las que, por mais que caiam, ainda assim serão amadas, igualmente amadas.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Pra isso serve o blog

Blogs servem pra desabafar também. Tirar do corpo gostos amargos, sangue parado, resíduos inúteis. Digitar não apenas letras ou caracteres, mas também o que se sente e o que é quase impossível de nomear; fica, assim, transformado em outra coisa, em palavra. Palavra é coisa errada, coisa torta. É mentirosa, como sombra na caverna. Mas é o único jeito de, o mais proximamente possível, tanger o que é Real.
E é assim que, mesmo depositando energias nesta postagem, ela não diz nem um pouco da minha verdade, esta que é tão efêmera quanto intensa. Não fala de minha dor, de medos que tenho. Não fala do terror que me toma e tira o sono, nem das forças para desviar, sequer seguir o reto caminho. Mas, de alguma forma, me alivia. Não quero saber se é a melhor maneira de ficar melhor... Ela simplesmente alivia.

domingo, 19 de abril de 2009

Anestesia


I want to be rich and I want lots of money

I don’t care about clever, I don’t care about funny

I want loads of clothes and fuckloads of diamonds

I heard people die while they are trying to find them

I’ll take my clothes off and it will be shameless

Cuz everyone knows that’s how you get famous

I’ll look at the sun and I’ll look in the mirror

I’m on the right track yeah I’m on to a winner



I don’t know what’s right and what’s real anymore

I don’t know how I’m meant to feel anymore

When do you think it will all become clear?

‘Cuz I’m being taken over by The Fear

Life’s about film stars and less about mothers

It’s all about fast cars cussing each other

But it doesn’t matter cause I’m packing plastic

and that’s what makes my life so fucking fantastic

(...)


Forget about guns and forget ammunition

Cause I’m killing them all on my own little mission

Now I’m not a saint but I’m not a sinner

Now everything's cool as long as I’m getting thinner (Lily Allen, The Fear)



Sim, eu comentei um tempo atrás que estava pensando muito nas músicas que surgem atualmente. Esta de cima, da Lily Allen, me chamou logo a atenção pela estranheza, tanto da sonoridade quanto do videoclipe, que é meio Alice no País das Maravilhas versão fashion 80. Depois, sabendo a letra, entendi que toda essa sensação de anestesia e de viagem lisérgica faziam sentido: a letra fala de um momento em que a pessoa tem um certo discernimento de que as coisas não andam tão bem, porém nada pode fazer a não ser nadar a favor da correnteza. Há tanto um auto-conhecimento (autoconhecimento?) que perpassa a psique coletiva, visto que fala de si através também do que se vê nos outros ao redor (heteroconhecimento?), quanto uma certa ironia, que pode ser entendida como tal ou como uma verdadeira "anestesia mental" em que não se para para (estranho!) realmente refletir sobre o fenômeno; ele apenas é descrito.


Acho que isso tem acontecido tanto com a gente! Somos pequenos mísseis, sim, atingindo uns aos outros, porém teleguiados por algo maior... Isso me assusta, assim como a vida falando mais de estrelas de cinema do que de mães. Aliás, o dia delas está chegando...


quarta-feira, 15 de abril de 2009

Postagem rápida...

Faz tempo que não escrevo... Saudades! Hoje não vou falar nada de mais, foi a privação que me fez vir aqui, atraves do meu super iPhone. Só estou escrevendo para contar que estou de casa nova (homenagem a minha amiga Re Casanova, aniversariante de hoje! hahaha). Ainda estou sem banda larga, então por isso minha ausência... Mas tendo uma nova experiência (um adendo: dois carros acabaram de bater aqui perto, fui espiar da janela). Eu aprendi a gostar um pouco mais de mudanças; elas nunca foram minhas melhores amigas, mas a verdade eh que não tive muito contato com elas. Não são presenca fixa da minha vida mais de base, ou seja, de muito nova. Então precisei aprender a respeita-las nestes últimos tempos.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Que música do Los Hermanos eu sou

Adoro as notícias do Yahoo!. Hoje me deparei com um teste "Que música do Los Hermanos você é?" e, óbvio, cliquei na hora. Segue o resultado e, abaixo, 1) o link pra cada um fazer o teste e aproveitar pra conhecer melhor a banda e 2) a letra inteira... Pior que fez sentido.


Que música do los hermanos é você?


Vai, hoje a lágrima não cai
Sei agora o mal que faz
Dar amor a quem não ama,
Dar amor a quem só traz
Ódio e desilusão
Que maltrata um coração
Precisando de carinho

Minha amada
Não consigo mais viver ao lado teu
Não consigo mais te dar o meu amor
Hoje vivo muito bem sem tua boca
E sozinho não conheço mais a dor

terça-feira, 24 de março de 2009

Single Ladies and Misses Independent


All the single ladies
Now put your hands up
Up in the club, we just broke up
I'm doing my own little thing
(...)
Ya can't be mad at me
Cuz if you liked it then you should have put a ring on it (Beyoncé, All the single ladies)


Não, eu não gosto nem um pouco dessa música da Beyoncé (aliás, muitas vezes me pergunto por que ela não assume inteiramente sua veia de compositora de baladas, como "Irreplaceable" e "If I were a boy", e não dessas músicas dançantes em ela já admitiu não serem suas preferidas e nas quais ela me dá um certo medo quando dança. Mas eu sei que essa cisma é minha, eu, que sou na verdade bem blasèe no que se refere a micaretas e qualquer tipo de agitação demasiada, pelo menos na maior parte do tempo. Mas voltemos ao "Não, eu não gosto nem um pouco dessa música da Beyoncé"). A questão é que ultimamente tenho pensado muito nas músicas atuais, mais do que de costume. Não só pensando, mas tentando compreender o por quê de elas terem sido 'fisgadas' do mundo das ideias justamente no tempo e no espaço em que se inserem, que motivações maiores estão por detrás desse suposto pseudo-acaso.


Tentando dar outro sentido talvez menos filosófico-platônico, o que quero dizer é que, sabendo que artistas são aqueles que conseguem expressar não apenas o que está dentro deles, mas também passam para o registro do concreto e sensível (i.e., que se sente, que diz respeito aos sentidos) o peso do ambiente sobre nós, então as letras das músicas são uma amostra da expressão artística do movimento do mundo. Ok, ok, talvez essa minha explicação continue tão intangível quanto a de cima. O que quero dizer, sem delongas, é que as músicas não surgem nem determinada época à toa, elas têm um sentido de ser e estar naquele momento específico -e, ainda mais do que estarem, permanecerem, como é o caso das canções imortais, que quebram as leis do tempo e do espaço, da finitude e do ciclo vital, obedecendo a um outro tipo de ordem. Sobre elas, aliás, procuro ter fé de que algumas músicas dos dias de hoje possam, mais pra frente, receber esse título -mas, infelizmente, nem sempre sou tão otimista. O que me conforta é que não estarei aqui pra confirmar ou refutar minhas esperanças.


Mas, pela segunda vez, voltando à frase "Não, eu não gosto nem um pouco dessa música da Beyoncé". Realmente não gosto, mas alguma coisa ela mostra sobre nós, habitantes de metrópoles. Comecei a pensar nisso justamente no metrô, onde me deparo, quase todo dia, com aquilo que já conhecemos: gente empurrando, xingando, passando pelo outro como se ele fosse de outra dimensão e o corpo não estivesse realmente presente ali - hologramas tipo reunião de cúpula do Star Wars, saca?


Nisso tudo, o que mais me incomoda muito são os homens: eles perderam o pouco que se considera adaptável do pensamento medieval, ou seja, o cavalheirismo. Fico achando que, se houvesse uma tragédia tipo Titanic hoje em dia, ninguém ia se lembrar de dizer "Mulheres e crianças primeiro!", há!, doce ilusão. É cada um por si mes-mo. Os barcos iam ficar lotados de trogloditas que não poderiam perpetuar a espécie entre si.



Freud, Darwin, feministas, alguém poderia me explicar por quê o cavalheirismo está com os dias contados???
PS: E ainda me vem um Ne-Yo da vida e faz uma música desse naipe:
‘Cause she work like a boss
Play like a boss
Car and the crib she ’bout to pay ‘em both off
And bills are payed on time, yeah
She made for a boss
Slowly a boss
Anything less she telling them to get lost
That’s the girl that’s on my mind

She got her own thing
That’s why I love her
Miss independent
Won’t you come and spend a little time (Ne-Yo, Miss Independent)

Menina veneno - uma análise


Meia-noite no meu quarto, ela vai subir
ouço passos na escada, vejo a porta abrir
um abajur cor de carne, um lençol azul
cortinas de seda, o seu corpo nu


Menina veneno, o mundo é pequeno para nós dois
em toda cama que eu durmo
só dá você


Seus olhos verdes no espelho brilham para mim
seu corpo inteiro é um prazer
do princípio ao fim
Sozinho no meu quarto
eu acordo sem você
fico falando pras paredes
até anoitecer


Menina veneno, você tem um jeito sereno de ser
em toda noite no meu quarto
vem me entorpecer
me entorpecer


Meia-noite no meu quarto
ela vai surgir
eu ouço passos na escada
eu vejo a porta abrir
Você vem não sei de onde
eu sei, vem me amar
eu nem sei qual seu nome
mas nem preciso chamar


Menina veneno, o mundo é pequeno

demais pra nós dois
em toda noite no meu quarto
vem me entorpecer
me entorpecer
Menina veneno ... (Ritchie)



O que a gente primeiro percebe na música uma é exacerbação da sensualidade, ou seja, do que é impresso através das sensações e dos sentidos: audição ("ouço passos na escada / ela vai subir"), visão ("vejo a porta abrir", "seus olhos verdes no espelho brilham para mim"), tato ("cortinas de seda"), olfato e paladar, por vezes implícitos ou gerais ("seu corpo inteiro é um prazer"), que fazem com que o ouvinte crie imagens cinestésicas ao longo da música, culminando em um cessar do sensual para dar lugar ao entorpecimento ("toda noite no meu quarto / vem me entorpecer"), ou seja, o cessar dos sentidos, representando o ápice sexual. Este uso do cinestésico deixa transparecer um sutil caráter simbolista da música, já anunciado pelo uso de aliterações ("menina veneno", "cor de carne", "lençol azul"), que também auxiliam na cadência da música.

Com relação à narrativa, observa-se que a primeira estrofe fala da expectativa da chegada da "menina veneno" ao quarto; a segunda introduz a "menina" e a descreve como um convite sexual; a terceira fala do desfecho do encontro, em que ela se vai; e a quarta traz o prólogo, em que subentende-se que ela vai retornar (tanto que o início da estrofe é semelhante ao início da primeira estrofe), caracterizando o enredo circular da música, também indicado pela constância da bateria, sem circunvoluções ou reviravoltas.

A menina veneno é objeto de prazer para o eu-lírico, e sua real identidade realmente não importa ("você vem não sei de onde", "eu nem sei qual seu nome"), indicando um certo distanciamento afetivo entre os dois. Tal jogo erótico parece ser consentido e acordado entre eles, o que não necessariamente implica que ambos compartilhem o prazer: em nenhum momento pode-se ter certeza de que ela compartilha o arrebatamento sentido e descrito pelo eu-lírico (ela chega a deixá-lo durante a noite: "sozinho no meu quarto / eu acordo sem você").


***


Leitores mais críticos ou atentos provavelmente estão se perguntando que raios de postagem é essa, com uma análise musical e literária de uma música que, de tão bem que funcionou, virou kitsch (Adendo: como conta Milan Kundera, a origem do kitsch tinha a ver com negar a merda, ou seja, negar o que é humano. O kitsch era algo sublime, um ideal estético. Para ele, "antes de sermos esquecidos, seremos transformados em kitsch. O kitsch é a estação intermediária entre o ser e o esquecimento". E, em alemão, kitsch significa pura e simplesmente lixo).
Na verdade, aqui não há nenhum motivo implícito para que eu tenha feito tal análise; foi um favor, um convite aceito, um agrado, um prazer -na verdade, um trabalho de faculdade que não é meu... Venho, sim, pensando no significado das músicas e estou trabalhando numa postagem a respeito (próximos capítulos...). Quanta coisa! Mas vale levantar a questão: por que será que essa música toca as pessoas, de um jeito ou de outro? Quem não a conhece, pelo menos no refrão, de cor e salteado? Fazendo essa análise, passei a olhá-la sob um novo olhar, mais respeitoso e compreensivo (pelo menos um pouco). Porque dela se despreendem chamarizes do que nos é instintual; e é isso que faz a "menina veneno" um torpor que não vê sexo -muito menos escolha sexual.

segunda-feira, 9 de março de 2009

O seu, o meu, o nosso

Há algum tempo (quase dois meses), li uma entrevista na revista Marie Claire (que, aliás, é minha preferida das revistas femininas) que me chamou a atenção não apenas pelo título, um pouco excêntrico, mas também pelo conteúdo que trazia o entrevistado: ele é Silvio Meira, um futurólogo -sim, sei que continua parecendo excêntrico – que pode, seguindo a lógica de seu trabalho, cujos temas abrangem desenvolvimento científico e constante atualização da tecnologia, traçar algumas previsões acerca do futuro da humanidade. É aí que, lendo o que ele diz, percebemos que não há nenhum traço de excentricidade ou esoterismo à la Paulo Coelho (por mais que até a fotografia do entrevistado sugira uma relação com o homem que geralmente usa blusas preta de manga longa): pelo contrário, são potencialidades de que não podemos, por mais que tentemos como peneira contra o sol ou, atualizando a expressão, um enorme buraco na camada de ozônio, nos esconder.
O por quê de ruminar essa entrevista desde então? Provavelmente porque não consigo deixar de pensar nos problemas do mundo, propagados cada vez mais pelos meios de comunicação mas que, besteiradas à parte, são realmente importantes. Num workshop sobre Psicologia Organizacional que vi há um ano, uma professora disse, despretensiosamente, que, assim como a bandeira dos hippies era a revolução sexual, a flâmula a ser erguida pela nossa geração é a da conscientização ambiental. Esta frase, bem, já deixei de ruminar, talvez esteja agora tentando encaixá-la em minha vida cada vez mais.

Sugiro, obviamente, a entrevista completa (feita por Milly Lacombe, com foto de Léo Caldas), na MC 214. Mas, de qualquer forma, propago aqui trechos das informações trazidas por este homem, que é futurólogo, consultor da ONU, pai de três filhos e, mais do que isso, um co-habitante de nosso planeta que é sensível o suficiente para perceber que há algo de errado e otimista o suficiente para acreditar que possamos consertar o estrago.

Marie Claire – Em um artigo publicado na revista “Wired” e assinado pelo renomado cientista americano Billy Joy, cofundador da Sun Microsystems, um dos cenários possíveis é o do futuro totalmente dominado pelas máquinas. Como isso seria possível?
Silvio Meira – Dou um exemplo. Num mundo ideal seremos servidos por máquinas inteligentes que nos levarão de um ponto a outro por capacidade própria. Mas imagina essa situação: Milly e Silvio querem ir para o hotel X e os carros se recusam a levá-los. Esse é o risco sobre o qual Joy falou no polêmico artigo “Por que o futuro não precisa da gente” (...) Nesse cenário de Joy, existe uma elite que vai dominar a máquina e controlar você. Essa elite se chama programadores (...). Dentro de 15, 20, 30 anos, se você não souber programar, estará alienado da sociedade. Será como o analfabeto hoje. (...)

MC – Ficaremos a cada dia mais escravos do sistema?
SM – Você navega na internet, ou usa o cartão de crédito ou de débito, ou usa o Sem Parar nas estradas... Tudo o que você faz começa a ficar registrado no sistema. Resultado: daqui a 10, 15 anos, o sistema terá uma pirâmide de informação a seu respeito, o que você gosta de fazer sexta à noite, onde compra comida etc. (...). Por exemplo: o sistema identifica que Silvio Meira está, por motivos diversos, dentro de nível de risco de cirrose elevado e que, se ele contrair a doença, custará muito caro à instituição. Então, o sistema determina que ele só pode tomar duas doses de whisky por noite. Eu vou a um bar, peço a terceira dose e o garçom me diz que eu não posso mais. Se o sistema registrar absolutamente tudo sobre você, sem nunca esquecer nada, eu não vou poder tomar a terceira dose.

MC – Daqui a 20 anos, como será a vida de uma mulher de classe média, casada, com filhos, que trabalha fora?
SM – (...) Não tem a empregada e a lista do supermercado básica será entregue sem a necessidade de fazer o pedido, que já estará registrado, regularmente. Os alimentos já virão semiprontos (...) A escola das crianças será em tempo integral e muito perto de casa, e ela não vai precisar levar nem buscar as crianças (...) Uma leitura rápida de você, pela digital ou pelo olho, vai dizer quantos créditos ainda tem para comprar determinado serviço no ponto de venda que você está (...) O documento irá morrer: você será seu documento. (...) Para uma reunião de trabalho, ela não precisará estar fisicamente presente. Sua presença se dará de outra forma: o virtual dela, um avatar. (...)

MC – Seremos pessoas mais isoladas?
SM – Quantas horas você perde por dia dentro do carro no trânsito indo e vindo? Três, quatro? Imagina recuperar isso? Você pode ir para o clube, visitar amigos, fazer jantares na sua casa, ver a família todos os dias. (...)

MC – E como a tecnologia pode ajudar [a garantir que haja futuro]?
SM – Diminuindo o movimento de pessoas pelo planeta em, por exemplo, viagens de negócios, idas e vindas do trabalho etc, que é um dos maiores motivos da carga de aquecimento térmico (...). Identificando-se todas as embalagens e informatizando o planeta de tal maneira que é possível ir atrás de uma empresa que produz sabonete e dizer: “Escuta, 70% de suas embalagens estão espalhadas por aí como lixo. Seu custo ambiental por essa é tanto”. Nesse caso, ou a empresa faz uma embalagem que se degenere sozinha, ou recupera as embalagens perdidas, ou treina seus funcionários e clientes para recuperá-las. O responsável pelo destino final da embalagem passa a ser quem a produz. É a era da responsabilidade (...). Olha em volta, o futuro já chegou.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Oscar e o controle


Pela primeira vez na minha vida, assisti à cerimônia do Oscar inteirinha, da atriz coadjuvante ao filme. Claro que, telespectadora ativa (e não passiva) que acabo sendo mesmo sem querer, surgiram-me algumas perguntas de cujas respostas não fui atrás, mas que quis compartilhar (já que, como diz um comercial do só segundo refrigerante mais vendido: "questione"):

* Há 81 anos (desde o começo da premiação) a ordem de apresentação dos prêmios é esta? Qual o sentido de colocar, em primeiro lugar, a categoria de atriz coadjuvante e, lá pras tantas, a de ator coadjuvante, e a de diretor antes da de ator, que vem logo antes da de filme? Confusão! Enfim... que estratégia é essa? A atriz coajuvante é tipo um teaser pro resto da premiação?

* Será que os estilistas famosos também dão (ou emprestam) vestidos para as mulheres que não são atrizes, mas que concorrem nas categorias técnicas e/ou menores (por exemplo, uma diretora de curta-metragem)?

* Será que a posição de cada estrela que assiste ao evento é milimetricamente e meticulosamente calculado (tipo: fulano não vai com a cara da cicrana, então vamos colocá-lo do outro lado, mas também não do lado do beltrano, que está com a ex do fulano)?

* Falando nisso, por que a coitada da Jennifer Aniston teve que apresentar um prêmio de frente pro casal Jolie-Pitt e, ainda por cima, acompanhada do Jack Black? Não tinha pelo menos um James Franquinho, ou um Clooneyzinho?

* Que critérios a Academia usa para escolher os filmes, tão diferentes entre si? No caso deste ano, o que fez com que Slumdog Millionaire ("Quem quer ser milionário?") ganhasse 80% dos prêmios a que concorria?

Quanto a esta última pergunta, eu vou dizer aqui uma informação meio conspiratória: minha mãe viu em algum lugar uma entrevista com a escritora de novelas Glória Perez. Ela conta que usou serviços de uma empresa que busca, no mundo todo, as tendências do futuro. Foi assim que ela descobriu que a Índia estaria em alta este ano e, daí, surgiu a novela das oito. BOM: pode ser impressão ou não, mas aquela obra de arte que estava no fundo do palco do Kodak Teathre feita por dois irmãos (não consegui entender o nome) era bem a cara dos seguidores dos Upanishads. E as duas canções do Slumdog, cantadas em seguida e dançadas pelo elenco de Bollywood, não ocuparam tanto tempo na televisão à toa. Pensando bem, não é preciso ser adivinho ou trabalhar na tal empresa x-men para, se não prever, ao menos acreditar que a Índia agora, neste momento global, com suas cores e fatos, faz todo o sentido.
(Ah, melhor mencionar: Não, o Infinito de Emy não trabalha para esta tal empresa, por mais que já tenha falado sobre a Índia em seus domínios)

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Chasing Pavements

Às vezes, uma música pode falar mais do que um grande tratado.




I've made up my mind,
Don't need to think it over,
If i'm wrong i am right,
Don't need to look no further,
This ain't lust,
I know this is love but,
If i tell the world,
I'll never say enough,
Cause it was not said to you,
And that’s exactly what i need to do,
If i'm in love with you,

Should i give up,
Or should i just keep chasing pavements?
Even if it leads nowhere,
Or would it be a waste?
Even if i knew my place
should i leave it there?
Should i give up,
Or should i just keep chasing pavements?
Even if it leads nowhere

CmI'd build myself up,
And fly around in circles,
Wait then as my heart drops,
And my back begins to tingle
Finally could this be it

Should i give up,
Or should i just keep chasing pavements?
Even if it leads nowhere,
Or would it be a waste?
Even if i knew my place should i leave it there?
Should i give up,
Or should i just keep chasing pavements?
Even if it leads nowhere
Should i give up,
Or should i just keep chasing pavements?
Even if it leads nowhere,

Or would it be a waste?
Even if i knew my place should i leave it there?
Should i give up,
Or should i just keep chasing pavements?
Even if it leads nowhere

Impossível não pensar na repetição de temas destas minhas três últimas postagens... Falo disso mais tarde (ou não).

A beleza


[Imagem: Li Wei]


Há uns três dias, abri um livro que estava segurando desde o Natal para ler, tamanha a expectativa sobre ele: "A insustentável leveza do ser", de Milan Kundera (Companhia das Letras, 2008 - o livro é de 1929).


Que bom que aguardei. Comecei a lê-lo após assistir pela segunda vez ao filme "Closer" e ter chorado em alguns momentos. É engraçado como me identifico tanto com Alice/Jane quanto com Anna. Tenho dentro de mim um pouco de ambas: a menina que está crescendo e, no caminho, dando trombadas com o amor e ferindo o coração, e a mulher que luta pra ser 'mulher' (de acordo com Simone de Beauvoir, não nascemos mulher, mas nos tornamos uma), arriscando a alma por meio de suas culpas.


Pois não é que, voltando ao "Insustentável..", me encontrei novamente nas duas personagens femininas centrais do livro? Tereza e Sabina, mulheres que, a meu ver, se parecem com as protagonistas de "Closer" (ou vice-versa), por suas relações com o mundo e com o amor.


O amor.


Disse Al Pacino, em "O advogado do diabo" (sim, eu tenho visto mais tv nessas férias!!!): "[O amor é] Superestimado. Bioquimicamente, é o mesmo que comer dezenas de quilos de chocolates".




Hoje, só posso dizer que, independente do que seja o amor (assunto pra oouutras postagens), as relações são sempre delicadas. E cada passo de um caminho que andamos junto com o outro pode nos afastar da trilha em comum. Bifurfações existem. E maneiras diferentes de se enxergar um atalho também. O que parece ser regra é que ninguém sai ileso desta caminhada (cá estou eu, de novo, falando de como é importante andar...). E só pra citar o livro, pelo qual estou apaixonada (sem os riscos de uma relação):

"Não existe meio de verificar qual é a decisão acertada, pois não existe termo de comparação. Tudo é vivido pela primeira vez e sem preparação. Como se um ator entrasse em cena sem nunca ter ensaiado. Mas o que pode valer a vida, se o primeiro ensaio da vida já é a própria vida? É isso que leva a vida a parecer sempre um esboço. No entanto, mesmo 'esboço' não é a palavra certa, pois um esboço é sempre o projeto de alguma coisa, a preparação de um quadro, ao passo que o esboço que é a nossa vida não é o esboço de nada, é um esboço sem quadro." (p. 14)

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

O presente, o Futuro e as Pérolas


Imagine a seguinte cena: você subindo as escadas rolantes do metrô em direção à rua e, do lado oposto, na escada que desce ao subterrâneo, uma imagem sua, só que do futuro, com as marcas do tempo no olhar e em todo o restante do corpo.

Esta cena poderia ser uma daquelas imortais do cinema (Jack e Rose de braços abertos na proa do Titanic; Marilyn Monroe de vestido branco balançando; James Dean de lenço no pescoço correndo na moto). Mas ela não é ficção: aconteceu comigo.

Foi no fim do ano passado, saindo do metrô Paraíso. Eu, pra quem ainda não sabe, japonesa, 1,57m, voltando da faculdade, maxibolsa a tiracolo. E, descendo na escada oposta, uma senhora oriental, baixinha, de saia comprida -provavelmente cobrindo um chinelo com meias -, óculos e uma bolsinha nas mãos.

Gosto de olhar a velhice (assunto pra outras postagens), mas a sensação que tive ao imaginar a simbologia do momento, eu indo à superfície, enquanto ela rumava ao subsolo, foi além. Somou-se à simpatia habitual uma mistura de terror e a curiosidade frente a ele - ao terror nominado e ao terror-sem-nome (nos termos de Bion, psicólogo inglês). Aquela atração/repulsa que sentimos, contrariando leis da física, nos mais variados momentos da vida -eu e algumas mulheres que conheço, por exemplo, odiamos as bolinhas que se formam na parte interna da casca da mexerica quando a raspamos com um garfo, mas também não conseguimos parar de raspar...


Generalizando um pouco mais, e voltando aos filmes, é como querer-e-não-querer olhar a cena mais forte de um filme de terror, vencendo sempre a vontade de ver com os próprios olhos (que expressão mais redundante) a cara da mocinha ao ser decapitada. Talvez seja o mesmo desejo que nos move, no fim das contas, quando olhamos para o céu e nos perguntamos a origem da vida e pra onde vamos. Essa busca teremos por toda a vida, transformando-a no apego a uma religião, no trabalho estressante, num grande amor, na auto-destruição, na leitura. É o que nos move, nos impede de estacionar, não importanto tanto qual direção tomamos; o que importa é andar.
Acho que faz parte da essência do ser humano pensar na morte. Dela, como disse um amigo, não sabemos o que aguardar, mas deve ser coisa boa, pois ninguém que vai volta pra cá. E é por isso que eu modifico a frase-título do livro de Rubem Alves, "Ostra feliz não faz pérola" (Ed. Planeta): pra mim, ostra contente não faz pérola. Porque não necessariamente precisamos estar tristes para tentar aliviar nosso incômodo (o incômodo, aqui, quero dizer o do não-saber). Mas não podemos estar contentes, no sentido de nos contentarmos, pois isso nos impediria de buscar compreender, seja o que for. De andar. Afinal," o caminho é o fim, mais do que chegar" -já dizia o poeta.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Sobre vampiros e lobos (ou Por que gosto de Crepúsculo parte I)


Os livros da escritora americana Stephenie Meyer, "Crepúsculo", "Lua Nova", "Eclipse" e "Amanhecer" (este ainda não lançado no Brasil) têm sido o fenômeno de vendas e, conseqüentemente, de notícias em sites e de bilheteria (o primeiro filme estreou em dezembro).

A série narra a história de Bella, uma adolescente comum que vive na chuvosa e sombria cidade de Forks e se apaixona por um colega de sala misterioso, Edward. Ela logo descobre que ele é um vampiro e, com isso, dotado de características como: ser incrivelmente forte; ser incontestavelmente ágil; não poder sair no sol pois sua pele clara e gelada como pedra ofuscaria a visão; não comer; não dormir; ter mais de 100 anos (vai à escola pra disfarçar, já que foi transformado aos 17 anos); e conseguir ler os pensamentos de todos ao seu redor, menos os dela.

O amor que nasce entre os dois é cheio de percalços -primeiro, ele tem dificuldade em resistir ao odor extremamente adocicado do sangue da menina e, por isso, tem medo de feri-la; depois, ela deseja se tornar uma vampira, assim como Edward e sua família, mas ela também tem sua família pra deixar pra trás; além disso, ela ainda consegue se envolver com uma alcateia de lobisomens, dentre eles seu melhor amigo, Jacob, um rapaz da colônia indígena. Lobisomens são inimigos naturais dos vampiros. E essa inimizade aumenta quando Jacob deixa transparecer suas segundas intenções com Bella, deixando-a bem confusa -ainda que negue este fato -entre um vampiro caucasiano, gélido, romântico e de traços perfeitos e um pele-vermelha divertido, quente e cheio de pegada amigo-lobisomem (que só deixa de ser humano em momentos de muita fúria).

Acho que está bem claro, pelo tamanho da minha descrição, que sou fã da série. Estou no último capítulo do terceiro livro, pensando em ler o quarto em inglês, como já fiz com o segundo (sob patrocínio da minha prima, Cá, hehe) . Sem querer cair na comparação óbvia entre estes livros e os da J.K. Rowling (que, pra começar a diferenciar, é inglesa, diferentemente da Meyer), prefiro falar sobre aspectos particulares desta história de amor e fantasia, partindo da minha experiência pessoal e, claro, da Psicologia.

Contardo Calligaris, psicanalista, escritor e colunista da Folha de São Paulo, escreveu sobre o assunto (bom entendedor, ele já leu os quatro livros!). Ele indagou quais seriam os motivos para histórias de vampiros, vez ou outra, ressurgirem com toda a força no imaginário do povo (especialmente, talvez, os jovens) e lotarem as estantes de locadoras e livrarias com imagens de seus olhos sedutores e dentes afiados. E, então, deu sua leitura sobre a atração por estes seres míticos, leitura tal que me fez pensar bastante até que eu pudesse colocá-la aqui no meu Infinito e, ainda, acrescentar alguns pensamentos meus.

Dada minha descrição anterior sobre Edward, podemos ao menos prever que ser um vampiro corresponderia a uma grande ajuda e alívio na vida de um adolescente: é praticamente invencível frente a qualquer inimigo; tem um corpo perfeito que não muda a todo instante e, mais do que isso, 1) não precisa ser satisfeito com necessidades como tomar banho, comer, dormir, e 2) é imortalmente perfeito, eternamente jovem e vigoroso, não envelhece jamais; é sedutor e conquista quem quiser; é noturno (quem nunca voltou do colégio e capotou no sofá a tarde toda, sem conseguir dormir depois por ficar no msn?); é cheio de segredos que simples humanos não poderiam entender.

Mais do que desejo de ser como um vampiro (ideal de ego, ou de self), há uma identificação com o vampiro: nos sentimos, muitas vezes, tão invencíveis quanto eles, achamos (negando o que é real) que coisas ruins não vão acontecer conosco, pois nossa grama é que é a mais verde.

E os lobisomens? Calligaris não chegou a comentar sobre eles (provavelmente porque ele é menos enxerido do que eu, que já estou adiantando o segundo filme, "Lua Nova", ainda sem previsão), mas penso que eles também sejam um outro lado da adolescência. Quando se vira lobisomem, o corpo fica mais forte e cheio de pêlos, os sentimentos de fúria e emoção intensos são freqüentes e podem causar estragos, dorme-se muito e a temperatura é muito "quente" (como os hormônios muitas vezes nos deixam...). A comunicação entre os lobos de uma alcateia, mais do que verbal, é pelos pensamentos. A psique coletiva domina o grupo, pensa-se não individualmente, mas em conjunto. Não é a imagem do grupinho uniformizado que vemos atravessar a rua, divertido, no horário do almoço?

Acho que é fácil se identificar assim com a personagem principal: alguém que oscila entre o desejo mais intelectualizado e maduro de se fundir com um alguém que personifica o ideal de perfeição (e toda a mesmice e não-me-toques que ela pode trazer) e o desejo mais instintual e infantil de se divertir o mais livremente possível, sem amarras ou códigos de lei. Não é à toa que dizem que a adolescência é o intermezzo entre a criança e o adulto, mas que, (in?)felizmente, não há um Muro de Berlim que separe um do outro. Pelo contrário, é a contradição e a contravenção que definem a adolescência. É tudo o contra. O contra do quê? Confuso. Difuso.
***

Além da intensidade dos personagens, claro, é importante considerar o jeito de contar a história: Meyer coloca Bella como a narradora, e através dela sabemos todas as confusões que permeiam seus diálogos com o pai, com o novo amor, com os amigos do colégio (junto com os quais ela se sente pouco à vontade, tão atraída que é pelo que é diferente, misterioso e até sobrenatural). Vemos suas mudanças de atitude, nem sempre as mais certas ou sensatas, geralmente seguidoras de suas emoções. Bella faz rir, dá raiva, seduz, envergonha, causa inveja... Mas aí já é assunto pra próxima postagem.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Criando asas...



Queridos que me leem,
digo-lhes com prazer e empolgação que criei um novo blog, o Quem Conta um Quadro (http://quemcontaumquadro.blogspot.com/). Ele surgiu de uma certa tristeza que me domina o olhar no dia de hoje, mas também é fruto de sementes plantadas e cultivadas há algum tempo, provavelmente desde a primeira postagem de mini-conto inspirado num quadro que escrevi aqui. Assim, pra quem gosta das minhas pequenas loucuras literárias, espero que aproveitem este irmãozinho mais novo do Infinito de Emy, e que ele possa oferecer algum tipo qualquer de viagem instantânea e fugaz por alguns instantes do dia de cada um.
É isso...

sábado, 17 de janeiro de 2009

Índia vai à moda (ou Testes Quem é Você)


Adoro testes do tipo Quem é Você (pra quem não sabe -ou seja, os homens que leem este blog -, testes Quem é Você são aqueles cujos temas relacionam sua personalidade com a de alguém conhecido, tanto pessoas de carne e osso quanto personagens de TV etc). O último que fiz tem a ver com, claro, a Índia, que vai ser inspiração para notícias de jornal, matérias de revista, ícones fashion e etc etc nesse mundo globalizado e nesse país mais "global"izado ainda. E como meu infinito também se insere nessa roda viva, e eu não resisto a esse tipo de testes, como já disse antes, abaixo segue o link para descobrir com qual deusa indiana você mais se identifica. E o resultado do meu teste também.



Quem eu sou, de acordo com o teste:

Saraswati
Você tem semelhança com a deusa da música, do conhecimento e da poesia. Mulher de Brahma, o deus da Criação, Saraswati favorece o aprendizado e a ligação com a espiritualidade a partir de um envolvimento que conta não só com a fé, mas também com a lógica e o raciocínio.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Parabéns pra você...


[Imagem: arquivo pessoal -e bota pessoal nisso!]

Hoje O Infinito de Emy comemora um aninho de idade!
* 365 dias;
* 45 postagens (média de 1 postagem a cada 8,1 dias);
* 8 poemas;
* 5 mini-contos;
* 3 análises "psicológicas";
* 3 desculpas públicas por demorar pra postar;
* e algumas considerações acerca do cotidiano e das constelações que habitam este infinito meu.

O tempo, como geralmente tem feito, passou rápido ao longo deste ano. Não acho que minha proposta inicial tenha mudado - escrever o que sinto e o que penso para me sentir bem e, talvez, expor um pouco de mim. E o fato de ela não ter mudado, mesmo com tudo o que percorri em 2008, para mim é um sinal, cheio de esperança, de que mesmo hoje em dia algumas coisas podem ser mais do que efêmeras: provavelmente não eternas, mas suficientes para criar sólidas raízes.

(Bonito, né? Obama, me aguarde...)

Sério: quero dizer obrigada a todo mundo que lê pacientemente minhas postagens, às vezes longas, às vezes breves, às vezes tristes, às vezes toscos, enfim, na medida do quanto cabe neste infinito particular (parafraseando Marisa Monte), talvez nem tão particular assim. Sei que não são muitos os leitores, mas são todos muito amigos e especiais. Obrigada! Thanks! Merci Beaucoup! Gracias! Grazie! Danke! Arigato!

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Mais vozes sexy (ou crise de megalomania paranóica)

Uma rádio inglesa chamada "Planet Rock" provavelmente deu um google no meu nome e achou a postagem sobre as 7 vozes masculinas mais sexy (ver Novembro 2008). Empolgada com a idéia, fez uma lista de 40 maiores vozes do rock de todos os tempos. Copiei a lista das notícias do Yahoo! (http://br.noticias.yahoo.com/s/06012009/48/entretenimento-robert-plant-eleito-maior-voz.html) pra vocês conferirem, além de grifar os TRÊS que também estão na minha lista -que, só pra lembrar, não era só de rock. Mas nesta aqui faltou o Amarante, hein!

1. Robert Plant (Led Zeppelin)
2. Freddie Mercury (Queen)
3. Paul Rodgers (Free, Bad Company)
4. Ian Gillan (Deep Purple)
5. Roger Daltrey (The Who)
6. David Coverdale (Whitesnake)
7. Axl Rose (Guns N' Roses)
8. Bruce Dickinson (Iron Maiden)
9. Mick Jagger (The Rolling Stones)
10. Bon Scott (AC/DC)
11. David Bowie
12. Jon Bon Jovi (Bon Jovi)
13. Steven Tyler (Aerosmith)
14. Jon Anderson (Yes)
15. Bruce Springsteen
16. Steve Perry (Journey)
17. Ozzy Osbourne (Black Sabbath)
18. Bono (U2)
19. Peter Gabriel (Genesis)
20. James Hetfield (Metallica)
21. Janis Joplin
22. Brian Johnson (AC/DC)
23. Roger Chapman (Family)
24. Phil Lynott (Thin Lizzy)
25. Glenn Hughes (Black Sabbath, Deep Purple)
26. Joe Cocker
27. Jim Morrison (The Doors)
28. Alex Harvey (Sensational Alex Harvey Band)
29. Alice Cooper
30. Ronnie James Dio (Rainbow, Black Sabbath)
31. Sammy Hagar (Van Halen)
32. Meat Loaf
33. Rob Halford (Judas Priest)
34. Geddy Lee (Rush)
35. Biff Byford (Saxon)
36. David Gilmour (Pink Floyd)
37. Fish (Marillion)
38. Dave Lee Roth (Van Halen)
39. Chris Cornell (Soundgarden , Audioslave)
40. Neil Young

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Análise psicológica de Sweeney Todd e Sra. Nellie Lovett


"Você roubou meu sossego.

Você roubou minha paz!

Com você eu vivo a sofrer

Mas sem você vou sofrer muito mais

Já não é amor, Já não é paixão

O que eu sinto por você é obsessão" (Orquestra Imperial, "Obsessão", Milton De Oliveira e Mirabeau)


Férias, jiboiar na frente da tevê, tirar o atraso dos filmes que queria ver. Um deles era o "Sweeney Todd - o barbeiro demoníaco da Rua Fleet". Não sei se foi pela boa companhia ou se isso foi apenas a cereja do bolo, mas adorei! Fiquei pensando nele por alguns dias ainda, o que, pra mim, é um bom sinal -sinal de que fui "afetada" pelo filme, ou seja, o filme me provocou algum tipo de afeto. Qual afeto? Não sei explicar. E nem quero.
Mas não explicar não me impede de elucubrar, viajar em cima de algumas questões que foram surgindo enquanto assistia às ótimas atuações do Johnny Depp e da Helena Bonham Carter, respectivamente o demoníaco barbeiro e sua assistente. Aliás, já sendo honesta: na minha opinião, a Sra. Lovett rouba a cena em muitos momentos. E é por isso que é sobre ela que escreverei aqui.
(agora é hora de você perguntar por quê eu incluí o Mr. Todd no título se vou falar apenas de sua assistente. E eu, então, respondo com a pergunta: se eu não colocasse, você saberia quem é a Sra. Nellie Lovett? Duvido!)
Resumindo a história: Sweeney Todd é um barbeiro da velha Inglaterra, que foi exilado por um juiz que queria ficar com sua bela mulher e sua filhinha. Ele retorna quinze anos depois, com um nome falso e alguns parafusos a menos, disposto a se vingar e ter de volta suas amadas. No caminho, descobre uma aliada, a Sra. Lovett, que lhe informa que sua mulher se envenenou. Ele, surdo de tristeza e de loucura, nem escuta Sra. Lovett cantar em seu ouvido: Se você ao menos soubesse, Sr. Todd ("My friends"). Já ela, cega de amor, não vê ou não se importa em responder como se fossem para ela os carinhos tecidos por Todd e dirigidos não a ela, mas sim a suas navalhas de prata.

No entanto, ela, diferentemente do que definimos como sinais de amor, como respeitar a identidade do outro, aceitando-o como é, parece muita vezes manipular Sweeney, atuando como uma parte faltante, um ego auxiliar, alguém que responde por seus atos. Por outro lado, ela também se deixa influenciar por ele, por vezes fazendo coro a suas atitudes (como zombar de Pirelli, o barbeiro estrangeiro).

Os dois se envolvem um ao outro, num processo fusional que é mostrado pelas roupas, sempre em tonalidades escuras contrastando com a pele branca e os olhos fundos. O tom cinza, na verdade, toma conta do filme todo (créditos a figurinistas, cenografistas e etcistas), num jogo de luz e sombra que parece destacar a ambivalência do ser humano, com seus momentos de lampejo e de escuridão. E, como bem comentou um amigo meu (:P), a única cor que realmente vive e brota nos habitantes da cidade é a cor do sangue, vermelho e brilhante, como que acumulando vida enclausurada naqueles corpos -neste sentido, o que Todd faz com seus clientes seriam redenções, e não assassinatos.

Voltando à Sra. Lovett. Em uma das músicas, ela canta sua solidão fazendo as piores tortas de Londres ("The worst pies in London"). Ela se sentia sozinha, carente e, dessa forma, nada do que produzisse, que fizesse com suas próprias mãos, poderia sair saboroso. Talvez, mais do que a carne humana posteriormente adicionada em suas receitas, era a companhia de um pseudo-marido e de um pseudo-filho o tempero que faltava para que ela pudesse se sentir provedora novamente. Não à toa, para a psicanálise, o forno é um símbolo relacionado à fertilidade, ao útero.

A relação com Toby, menino órfão que ela cuida, alimenta e de quem recebe amor e devoção incondicionais, é das mais tocantes. Enquanto ele, numa bela declaração de amor, canta que ninguém lhe fará mal enquanto ele estiver por perto ("Not while I´m around"), ela, confusa pelo amor que sente pelo menino e a obsessão que a impede de ver o lado sombrio e insano de Todd, canta para ele e tenta distrai-lo. Ela não tem forças para, na hora necessária, matar o filho, mas o deixa trancafiado num lugar cheio de tortas feitas por ela. E, quando Todd quer matá-lo, Nellie Lovett tenta impedi-lo, mas depois o ajuda a procurá-lo, tentando enganar Toby com a mesma canção que ele lhe dedicou.

Já no início do filme, a personagem de Helena Bonham Carter fala sobre o ex-marido num misto de saudade resignada e ironia: ele vivia sentado na cadeira devido à gota. Não dá pra saber se ele realmente morreu ou se foi morto -fica por conta da imaginação. E será que, quando casada, ela já nutria um amor por Sweeney? Como ela poderia ter percebido de cara que ele, na verdade, era o barbeiro outrora feliz e apaixonado, sem vê-lo por quinze anos? Por vezes se tem a impressão de que todos os seus atos são calculados. Em outros momentos, vê-se uma mulher perdida pelo medo de perder o pouco que tem, desesperada e cega pela obsessão. E é essa riqueza de "afetos" que a torna tão intrigante.