segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Feriado


Hoje é feriado. Geralmente, o que perguntamos na véspera de cada um é: "O que fazer no feriado?", mas dificilmente nos lembramos primeiro das obrigações de cada data que se aproxima; já planejamos direto nossos prazeres, a viagem pra praia, o que levar ao sítio, aqueles filmes da Mostra, etc.

Hoje é dia de Finados. Nunca vi nenhuma pesquisa sobre o tema, mas acredito que, a cada ano, menos pessoas vão primeiro aos cemitérios e rezam uma missa para, somente depois, descer a serra. Por que isso acontece?

As respostas devem ser múltiplas. Desde as desculpas - falta de tempo; o trânsito que leva pra chegar aonde queremos já ocupa metade do lazer; stress; morar longe; ser fora de mão; ser fora de moda. As outras respostas, que esbarram mais em questões sócio-culturais, sugerem o abandono de hábitos, costumes, rituais, antes tão necessários.

Os rituais de passagem, como os velórios, as rezas, começaram a existir pela dificuldade (assim entendem os antropólogos) de lidar com a morte, inerentes ao homem - tanto a morte quanto a dificuldade. Assim, fazer oferendas, dedicar um lugar especial ao corpo, celebrar são formas de tornar a morte mais "palpável", mais "significável" - mais "controlável", no fim das contas. Fazer rituais, portanto, seria ter um mínimo de rédeas em algo que tanto nos assusta.

E será que, hoje em dia, realmente não precisamos mais deles? Será que conseguimos uma forma superior de lidar com o inevitável, elaboramos a coisa de um tal jeito que já entendemos o ininteligível? Ou será que simplesmente nos deixamos levar por outros interesses menos nobres e mais imediatistas, deixando de lado obrigações que nossos antepassados, há tanto tempo, sentiram necessidade de cumprir?

Para as crianças de hoje, que desde cedo entram em contato com cenas violentas de filmes de terror e de noticiários da vida real, não acredito que seria menos produtivo ir ao cemitério, com sua família, visitar os que já se foram. Saber um pouco, quem sabe, da história dos que estiveram aqui antes dela, e que, por isso, ajudaram a tornar o mundo do jeito que lhe foi apresentado ao nascer. Ou, ao menos, se familiarizar com os sons dos cantos nas capelas, o cheiro dos incensos, o silêncio dos túmulos. E, então, com as velas acesas, juntas as palmas das mãos e agradecer pela proteção e pelas bênçãos, e desejar que estejam em plena paz e serenidade.

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