sexta-feira, 17 de julho de 2009

Caramelo


São dez quase em ponto, e eu acabei de voltar do cinema. Assisti ao “Caramelo”, um filme franco-libanês que fala da vida de mulheres de diferentes idades, porém do mesmo bairro, unidas pela amizade e pela busca pelo amor – seja ele amor por um homem, por outra mulher, pela família, uma pela outra ou por si mesmas. Pra mim, o filme também fala de escolhas que fazemos e as conseqüências delas de modo sério, visto que, em “Caramelo”, elas nos acompanham por anos e, se não forem substituídas (o que parece ficar cada vez mais difícil), permanecem por toda a nossa vida e se tornam nossa vida.

O filme traz personagens lindas e uma delicadeza que surge dos olhares, da fotografia, das canções e das texturas (especialmente das rendas e do caramelo do título, que é doce e dor ao mesmo tempo, pois é o material da cera de depilar feita por uma das personagens em seu salão de beleza). Enfim a beleza (que não à toa é uma palavra feminina) está em toda parte da história.
Engraçado que, enquanto as personagens principais trazem uma certa tristeza que as leva a buscar o outro, as mulheres que, em tese, encontraram alguém com quem viver por todos os dias (ou “por” quem viver “com” todos os dias...) são desenganadas. Disso tudo, portanto, resta o desengano das principais, que buscam no outro uma falta a ser preenchida e que na verdade não existe.

Jean-Jacques Lacan, psicanalista francês, dizia que a mulher não existe. Não existe à medida que seus desejos se voltam para a satisfação de outrem, pois assim se constitui: a mulher tem uma falta primordial que nunca é preenchida. Simone de Beauvoir dizia que não se nasce mulher, torna-se uma. A mulher é uma construção e, portanto, uma busca eterna. Se ela não existe, também nunca termina.

E é por tudo isso que fui ao cinema sozinha, pela primeira vez.

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