terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

O presente, o Futuro e as Pérolas


Imagine a seguinte cena: você subindo as escadas rolantes do metrô em direção à rua e, do lado oposto, na escada que desce ao subterrâneo, uma imagem sua, só que do futuro, com as marcas do tempo no olhar e em todo o restante do corpo.

Esta cena poderia ser uma daquelas imortais do cinema (Jack e Rose de braços abertos na proa do Titanic; Marilyn Monroe de vestido branco balançando; James Dean de lenço no pescoço correndo na moto). Mas ela não é ficção: aconteceu comigo.

Foi no fim do ano passado, saindo do metrô Paraíso. Eu, pra quem ainda não sabe, japonesa, 1,57m, voltando da faculdade, maxibolsa a tiracolo. E, descendo na escada oposta, uma senhora oriental, baixinha, de saia comprida -provavelmente cobrindo um chinelo com meias -, óculos e uma bolsinha nas mãos.

Gosto de olhar a velhice (assunto pra outras postagens), mas a sensação que tive ao imaginar a simbologia do momento, eu indo à superfície, enquanto ela rumava ao subsolo, foi além. Somou-se à simpatia habitual uma mistura de terror e a curiosidade frente a ele - ao terror nominado e ao terror-sem-nome (nos termos de Bion, psicólogo inglês). Aquela atração/repulsa que sentimos, contrariando leis da física, nos mais variados momentos da vida -eu e algumas mulheres que conheço, por exemplo, odiamos as bolinhas que se formam na parte interna da casca da mexerica quando a raspamos com um garfo, mas também não conseguimos parar de raspar...


Generalizando um pouco mais, e voltando aos filmes, é como querer-e-não-querer olhar a cena mais forte de um filme de terror, vencendo sempre a vontade de ver com os próprios olhos (que expressão mais redundante) a cara da mocinha ao ser decapitada. Talvez seja o mesmo desejo que nos move, no fim das contas, quando olhamos para o céu e nos perguntamos a origem da vida e pra onde vamos. Essa busca teremos por toda a vida, transformando-a no apego a uma religião, no trabalho estressante, num grande amor, na auto-destruição, na leitura. É o que nos move, nos impede de estacionar, não importanto tanto qual direção tomamos; o que importa é andar.
Acho que faz parte da essência do ser humano pensar na morte. Dela, como disse um amigo, não sabemos o que aguardar, mas deve ser coisa boa, pois ninguém que vai volta pra cá. E é por isso que eu modifico a frase-título do livro de Rubem Alves, "Ostra feliz não faz pérola" (Ed. Planeta): pra mim, ostra contente não faz pérola. Porque não necessariamente precisamos estar tristes para tentar aliviar nosso incômodo (o incômodo, aqui, quero dizer o do não-saber). Mas não podemos estar contentes, no sentido de nos contentarmos, pois isso nos impediria de buscar compreender, seja o que for. De andar. Afinal," o caminho é o fim, mais do que chegar" -já dizia o poeta.

Um comentário:

Anônimo disse...

Oi Japinha!
Bem interessante seu post, adorei! E realmente o importante é andar...
Só que duvido que você vire uma velhinha que anda por ai de chinelo com meias ehehehe.
Bjs!