quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Capitu (ou flor cândida e pura)


[Imagem: www.abril.com.br -sei que é meio óbvio colocar os olhos da Maria Fernanda Cândido, mas eu concordo que ela tem tudo a ver com a personagem! E olhem o sobrenome dela e o título da postagem!]
Esta semana está passando na Globo a minissérie "Capitu". Acho que não sou a única a achar que essas minisséries da Globo (como "Hoje é dia de Maria" etc) devem ser muito boas, mas ficam injustamente num horário horrível de se assistir. Confesso que, neste horário e em férias, me encontrarão em frente ao computador, mas enfim: é um horário infeliz e pronto. Eu acabo nunca assistindo mais do que um capítulo -e nunca inteiro.

Mas calhou que, alguns minutos atrás, estava eu escovando os dentes e a minissérie começou. Falou sobre o sacerdócio de Bentinho e, depois, sobre o soneto que ele nunca escreveu, mas do qual escreveu dois versos, o primeiro e o último, numa noite de inspiração. Esta não-realização, talvez menos castigada por si mesmo do que o emplastro (ou a vida sem sentido e sem filhos) de Brás Cubas, não deixou de ser, para a vítima dos olhos de ressaca, uma frustração. O primeiro verso, "Oh! flor do céu oh! flor cândida e pura", e o último "Perde-se a vida, ganha-se a batalha" (logo em seguida trocadas as posições dos versos pelo próprio Bentinho, futuro Dom Casmurro), foram as únicas partes que ele conseguiu escrever de um soneto.

Eu me lembrava direitinho desta parte do livro (que, confesso com a maior vergonha, nunca terminei de ler). O motivo? Não sei exatamente, mas talvez seja porque, metida a "aventureira de papel e lápis" que sou, na época me coloquei a ajudar Bentinho e aceitar sua oferta: completei o recheio do soneto, exatamente nos dias 16 e 17 de março de 2002 (!). Espero que ninguém entenda isso como uma heresia ou algo assim, foi só para me divertir mesmo.


Soneto para olhos de ressaca

Oh! flor do céu oh! flor cândida e pura!
Contigo novamente à noite sonhara
e te faço ser pra sempre uma ave rara
nesta fonte inesgotável de loucura!

E como prova desta vil amargura
pois tão longe me encontro, e o som dispara
deste sino, ao sacerdócio a mãe mandara
sem poder contemplar-te a formosura,

escrevo-te estes versos sem saúde...
perdoe, musa, a simetria toda falha-
que falta faz o tocar do alaúde!
Mas digo que, pra não vestir essa mortalha,
e expirar pela metade, sem gozar da plenitude,
ganha-se a vida, perde-se a batalha!

Um comentário:

Anônimo disse...

CLAP! CLAP! CLAP!
(Palmas ao som de: If I was young, I'd flee this town. I'd bury my dreams underground. As did I, we drink to die, we drink tonight...)

Beijos