domingo, 23 de março de 2008

Páscoa (ou postagem polêmica)


[Imagem: "O sacramento da última ceia", Salvador Dalí]


Hoje é Páscoa.


Não sei explicar direito o por quê, mas esse feriado pra mim geralmente é meio triste. Não lembro uma páscoa em que eu, de alguma forma, não tivesse ficado meio chateada, nem que seja por uns instantes. Uma vez, comentei isso com uma amiga (por sinal, uma daquelas amigonas do peito, daquelas de infância e de coração) e ela me disse que seu pai também tem essa sensação. Achei engraçado e, desde então, nesta época, tento pensar nos motivos que fariam o pai de uma amiga e eu termos em comum essa sensação melancólica na ressurreição de Cristo.


Começando pelo mais óbvio -caro Watson-, posso pensar no próprio significado da Páscoa, explicitado ali no final do parágrafo de cima. Pensar que alguém ressucitou é, talvez, lembrar que a pessoa antes teve que morrer e, no caso, não foi uma pessoa qualquer nem uma morte qualquer; Jesus foi morto e crucificado. O fato de Cristo ter ressucitado para nos salvar envolve, no mínimo, dois sentimentos: gratidão e culpa. Daí poderia vir meu sentimento ruim. A amarga culpa, com gosto de babosa (nunca experimentei, mas meu avô disse que é amarga).


Fazendo o samba do crioulo doido, os dois sentimentos de que falei me lembram de uma psicanalista chamada Melanie Klein, bem menos conhecida que o paizão Freud, mas que pra nós é bem conhecida (e causadora de embates: ou você a ama ou a odeia). Outro dia -se pá -eu falo da vida dela, que é bem interessante. Mas hoje quero falar somente um ínfimo que sei de uma parcela da teoria dela sobre inveja e gratidão. Para Klein (grosso modo!), nós, quando bebês, sentimos inveja da mãe por ela ser portadora de tudo o que é bom: leite, calor e o amor do daddy. Dependemos dela, e isso é irritante. Resultado disso é a atacarmos de algum modo simbólico e sentirmos de volta essa agressão, sem percebermos que essa raiva, na verdade, está em nós mesmos. Isso acontece até sermos maduros o suficiente para nos darmos conta do que rola, sentirmos culpa e, conseqüentemente, gratidão por essa mamãe que nos mantém vivos. Aí passamos, diga-se, para um "estado mais elevado do ser". Isso acontece com (quase) todos nós.


Enfim, a Páscoa pode ser um momento feliz, por envolver um fato glorioso da bíblia e também, hoje em dia, por ser um feriado prolongadão. Mas ela também me faz triste. E ao pai da minha amiga também. Pode ser do nosso sentimento de culpa por não sermos perfeitos e, por isso, termos sido salvos por alguém muito melhor do que nós. Alguém pleno como a mamãe. Alguém a quem devemos gratidão enorme, pois, mais do que nos dar leite, nos deu sua vida. Pode ser também por muitos outros motivos.





Caracas, viajei nessa postagem... Deve ter sido overdose de chocolate!

2 comentários:

Anônimo disse...

Jups,

Já comentei com você o quão lindo acho tudo isso que você escreve... isso me deixa um pouco triste, porque me relembra o quanto eu gostava de escrever (lembra das minhas histórias no computador windows 3.1?) e o quanto tempo me falta pra continuar fazendo isso... But keep going......! You´re doing it wonderfully hehe ... Bjos

possa disse...

Inventaram durante a Guerra Fria, uma demonstração de poder.