quarta-feira, 19 de março de 2008

Saudade


[Imagem: Edvard Munch, "Manhã", ano ?]


Como muita gente sabe, "saudade" é uma palavra que não existe em outras línguas. Além disso (ou por isso), é também uma das mais difíceis de traduzir em outros idiomas. Assim, para passar para outro idioma, usa-se um número grande de palavras para tentar dizê-la.


Acho que, indo além do significado semântico, no qual se utiliza a linguagem, a saudade é muito mais difícil de exprimir em um mínimo -seja esse mínimo um mínimo de palavras, um mínimo de afetos, um mínimo de sensações corporais. Saudade é algo muito mais complexo do que o quanto em si mesma comporta, daí sua incompatibilidade com o que quer que seja mínimo, menor, limítrofe, pouco.


Saudade é muito. Não existe pouca saudade. Sendo assim, ela tem um quê de onipotência, de preenchimento, de plenitude. Ela é autótrofa, autóctone, auto-suficiente. Chega até a ser invasiva, tomando espaço de outros sentimentos -estes, geralmente mais traduzíveis. Ao mesmo tempo, a saudade pode ser um poço vazio. Um nada. Um silêncio, um hiato. Saudade é pura contradição.

... Será que uma postagenzinha conseguiu traduzir um mínimo do que ela é?

2 comentários:

possa disse...

qual a palavra que resume não-saudade?

possa disse...

eu não acho nada, os poetas que se preocupem com isso.