segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Mi Confesión (ouça Gothan Project)

[Imagem de Beatriz Milhazes -aliás, ela está na Estação Pinacoteca até novembro, não percam]



Minhas confissões, escritas no título, se referem a um lado particular de minha vida: o lado relacional. Minha relação com o outro. Estou cheia de dedos pra escrever, pois é difícil, mais difícil do que parece colocar ao mundo através da linguagem escrita uma confissão dessas. Para alguns, deve ser bem mais fácil.



A questão é: estou apaixonada. Agora que o escrevi, errando diversas vezes a digitação da palavra “apaixonada” (agora acertei de primeira), é um pouco estranho. Soa exagerado. Parece até mentira. Mas, no fundo, imagino que não o seja. Sei que não é, porque conheço os sintomas. Já me apaixonei diversas vezes. A diferença é que... agora é diferente. É isso. Vou tentar explicar.



Tenho uma noção do por quê posso dizer que agora é diferente. Não é porque é a primeira vez que sou correspondida, ou o oposto disso –não mesmo. Já fui diversas vezes pega pelo platonismo, aquela paixão mais do que idealizada, projetiva. E não tenho a pretensão de achar que, dessa vez, o padrão esteja muito longe do habitual. Não, não. As listras podem não ter as mesmas cores, mas ainda são listras. Também já tive o prazer e os desprazeres de ser correspondida. E, claro, o eu nisso tudo nunca foi igual. Eu fui transformada por minhas paixões. E é este um dos motivos por quais considero que agora seja um pouco (mais) diferente.



Uma de minhas paixões correspondidas cresceu, viveu sua intensa e curta vida como adolescente inconseqüente, envelheceu e se tornou amor. E este amor, posto que é chama, era pouco e se acabou. Não duvido que, na verdade, eu esteja escrevendo tudo isso porque essa dor da queimadura que se tem quando um amor acaba (consigo mesmo e com muitos outros colaterais) ainda dói. “Falar do que foi pra você não vai me livrar de viver” –é isso o que estou ouvindo, aleatoriamente pelo destino, agora. E a dor se aproxima pisada a pisada com meu aniversário, é inegável. Acabei de ver que, na data que se encontra no subtítulo*, eu havia digitado 2004 ao invés de 2008. Não deve ser mentira, o inconsciente existe, explique-o como quiser. Mas falar de psicologia seria falar de outra paixão. Voltemos ao assunto.



Não quero falar do quanto tive que amadurecer durante minha passada pelos quadros de Munch. Eles não são fáceis, apesar de tão instigantes pra mim. Acabo voltando a eles, de vez em quando, por simples prazer, mas somente a passeio, não para me instalar de modo tão desconfortável e forçado, exilado, como naquela época. Época que, aliás, fez o primeiro aniversário dez dias atrás. Sim, assim como Anna O., que vivenciava o passado no presente, parece que um pedaço de mim o está fazendo agora.



Mas os caminhos sempre têm um preço –e, quando você dá mais pelo tíquete, recebe o troco. No meio de tudo isso, dei uma folga pro lado negativo da distimia que sucede um evento enlouquecedor, me rendendo à mania pelo menos por algumas horas, escravas ensandecidas –como eu- da noite. E foi aí que, que sorte a minha, encontrei um outro alguém. Eu não sei, graças a Deus, porque seria muito chato sabê-lo, que conjunções místicas e astrológicas estavam sendo realizadas naquele momento. Só sei que Baco ajudou muito neste encontro. Sim, eu estava bêbada, maníaca. E por isso que foi tão bom. Mas, apesar da embriaguez, algo me dizia, apesar do medo, que aquele encontro não era à toa, ele viria a me dizer algo mais. E, aos trancos e barrancos, realmente tem me dito, ainda agora, quase nove meses depois.



Por que aos trancos e barrancos? É este o meu desespero único nessa aventura nova em que tenho me... bem, me metido. Aprendi a não falar com estranhos desde pequena. E quem são estranhos? São pessoas a quem não fomos apresentados, ou seja, de quem não sabemos o nome. Pois a situação em que estou, com esse outro alguém, é uma situação na qual, por essa lógica, também não devo confiar, visto que tampouco me foi apresentada previamente ou foi, por algum batismo posterior e consensual, nominada.



Jamais imaginei me colocar neste tipo de relação, mesmo porque, com o amor que me tinha, eu já não pensava que teria um dia que estar em outra relação. E é bom agora saber que mudanças nos planos não dependem apenas de nós, elas exigem o que não somos capazes de dar por conta própria. Não somos mais donos do nosso destino a partir do momento em que a vida implica a presença de mais alguém. E, mesmo assim, a soma de um e um outro é ainda maior do que dois. Tendo este dado guardado em meu bolso, me arrisco a experimentar.



E como! É uma nova qualidade, nem pior nem melhor (por mais que eu tenda a comparar), de encontro. Envolve, sim, o tato, a visão, a audição, o olfato e o paladar – a sensualidade em seu sentido mais puro, impuro, imundo, mundano, humano. Envolve uma atração física e espiritual que me revigora, apesar de tender a me atar em correntes, já que muitas vezes até me tira o sono. São as velhas listras...






(* texto adaptado)

2 comentários:

Unknown disse...

Nem preciso falar né?!
hehehe lindo!

Anônimo disse...

"Não somos mais donos do nosso destino a partir do momento em que a vida implica a presença de mais alguém" - Essa frase é sua... mas posso roubar?? Hehe

Post mto corajoso... como você!

BJsss