Para mim, a música-chave de "Os Miseráveis" (mais do que emocionante na interpretação de Anne Hathaway) é como um prelúdio que narra o que acontecerá ao longo do filme. Mais ainda, é uma sinalização do que está por detrás de um enorme sentimento de estranheza que permeou minha sessão, e a qual pude começar a decifrar somente após algum tempo.
A estranheza que me saltava aos olhos, que me fazia questionar - afinal - que pessoas eram aquelas e por quê elas eram tão diferentes de mim, de nós, consistia na coragem (ali exibida por todos os personagens) em assumir e lutar por aquilo em que se acreditava: um novo curso de vida, uma justiça a ser respeitada, uma outra organização social e política, o nascer dum amor.
Em que parte da História essa coragem se perdeu?
Tenho a impressão de que o próprio filme traz uma ideia. Quando os jovens revolucionários franceses se veem sem o apoio da população e morrem, convictos do ideal de que após eles surjam outros - justificando assim suas mortes - talvez esses outros jamais tenham aberto suas casas, encerrados no que sempre esteve ali, atrás daquelas portas.
O medo não é o oposto da coragem, e sim a inércia. Talvez, em algum momento ("then it all went wrong"), os riscos tenham sido minimizados. As escolhas passaram a valer menos. À morte coube menos da metade da glória que lhe era concebida e, assim, não havia mais o que bradar, ameaçando aquela que é inevitável.
As revoluções se desenvolvem em silêncio. Porém, quando a hora é indevida e o ato se silencia de modo prematuro, elas são consumidas pela própria energia. Implodem.
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