sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Ele de novo (o amor)



[arte de Christiane Vleugels]

Só porque o coração é o primeiro órgão que indica ao médico que estamos vivos - que existimos - na barriga da mãe, não quer dizer que seja fácil lidar com ele. Na verdade, muitas vezes é difícil entender o que ele quer dizer quando acelera ao encontrarmos aquela pessoa, e ainda mais duro decifrar aquele aperto que ele dá quando dizemos adeus.


Como o entendimento "consciente" só se dá quando adquirimos o mínimo de linguagem necessário para traduzir sensações em palavras, imagino como foi a primeira vez que sentimos um prazer tamanho que balançou nosso coração. Provavelmente foi lá atrás, num colo do pai ou abraçando a mãe, e na ocasião só pudemos babar ou, até, molhar as fraldinhas de emoção.

Mas, se até a vida adulta, identificar e falar dos sentimentos é higher level para qualquer ser humano, penso cá com meus botões sobre a diferença de pesos e medidas entre homens e mulheres nesse quesito.

Para nós, de certo modo é mais fácil: aquela velha história de que à menina é autorizado chorar, ser "manteiga derretida" (com esse mundo light, nem isso podemos ser, no máximo nos é autorizado ser uma Becel derretida). O homem, esse não chora. Bom, se não chora, faz o quê, então?

Duvido que muitas pessoas indagaram a continuação desse dito popular tão plutocrático. Faz o quê, se não chora mas está triste, se quer um colo, se a dor no peito está insuportável, ainda mais no calar da noite?

Recalca. Ignora. Nega. Verbos que, por si só, deixam claro o crime que é dizer que "homem não chora". Então, a saída é adoecer. É errar e só conseguir perceber que se perdeu depois que a ponte atrás já se desfez.

E, por essa enorme falha no cultivo dos sentimentos masculinos, eles tampouco sabem como agir frente a algo que lhes provoque um mínimo de dor. É mais fácil sair de cena, partir, ir embora: essa é a escolha-padrão desde os tempos das cavernas.
E aí... aí vem a Becel.

Um comentário:

Unknown disse...

Sem palavras...simplesmente AMEI esse texto. Derreti-me como uma Becel.