Um desses filmes de discussão
inesgotável, podendo ser explorado sob diversos ângulos, “As Aventuras de Pi”,
para mim, já recebe menções sobre a tradução do nome, que poderia ter seguido
fiel ao original, sem grandes problemas. “Life of Pi” se aproxima mais ao que,
a partir do ângulo que escolhi, de fato se referem as situações/ “aventuras” que
o personagem principal – Pi, cuja explicação do nome verdadeiro é um dos
momentos divertidos na história – tem de enfrentar.
Explico. Há aqui os componentes
necessários para a saga de um herói: perdas, sacrifícios, luta e a redenção. Porém,
o filme não fala de um herói – Pi não tem nada a mais do que qualquer um de
nós; nem superpoderes, nem inteligência extraordinária, a não ser uma
curiosidade algo descomunal por diferentes religiões. Na verdade, o que ele
quer entender é como podemos acessar Deus, essa força maior que as religiões tentam
explicar por meio de suas histórias. Apenas isso. E não há nada mais anti-herói
e mais humano.
E o que seria Richard Parker?
Bem, para minha prima caçula, Luiza, o tigre seria “uma parte dele mesmo” – a agressividade,
a força, o que é instintual. Ou poderia também representar o equilíbrio
necessário em nossas vidas: sem o tigre lhe ameaçando e ao mesmo tempo lhe
ocupando o tempo e a mente, Pi sabiamente percebe que não sobreviveria aos 227
dias no meio do mar. Richard Parker poderia, portanto, estar dentro ou fora de
Pi. Poderia ser seu lado sombrio e regido pela ódio, ou poderia ser aquele
trabalho difícil, aquele recorde a ser superado, aquele tratamento de
fertilização.
Ao longo do filme, me pegava
pensando que jamais seria uma sobrevivente de um naufrágio. Sério. Não teria a
paciência e tranquilidade dosadas com atenção e energia necessários. Jamais,
jamais (esse segundo em sotaque francês pra dar mais ênfase) conseguiria. Depois,
constatei que “A vida de Pi” (tradução livre, como se dizem) é uma linda metáfora
sobre a vida, no melhor estilo oriental que conhecemos. E, sendo assim, posso
muito bem ser capaz de enfrentar meus próprios tigres – pois o que realmente
importa, o que realmente somos, é independente do percurso que escolhemos, de
modo que a nós cabe definir o andamento da própria história.
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