segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Oscar 2013: As Aventuras de Pi (ou "De onde vem a calma", Los Hermanos)




Um desses filmes de discussão inesgotável, podendo ser explorado sob diversos ângulos, “As Aventuras de Pi”, para mim, já recebe menções sobre a tradução do nome, que poderia ter seguido fiel ao original, sem grandes problemas. “Life of Pi” se aproxima mais ao que, a partir do ângulo que escolhi, de fato se referem as situações/ “aventuras” que o personagem principal – Pi, cuja explicação do nome verdadeiro é um dos momentos divertidos na história – tem de enfrentar.

Explico. Há aqui os componentes necessários para a saga de um herói: perdas, sacrifícios, luta e a redenção. Porém, o filme não fala de um herói – Pi não tem nada a mais do que qualquer um de nós; nem superpoderes, nem inteligência extraordinária, a não ser uma curiosidade algo descomunal por diferentes religiões. Na verdade, o que ele quer entender é como podemos acessar Deus, essa força maior que as religiões tentam explicar por meio de suas histórias. Apenas isso. E não há nada mais anti-herói e mais humano.

E o que seria Richard Parker? Bem, para minha prima caçula, Luiza, o tigre seria “uma parte dele mesmo” – a agressividade, a força, o que é instintual. Ou poderia também representar o equilíbrio necessário em nossas vidas: sem o tigre lhe ameaçando e ao mesmo tempo lhe ocupando o tempo e a mente, Pi sabiamente percebe que não sobreviveria aos 227 dias no meio do mar. Richard Parker poderia, portanto, estar dentro ou fora de Pi. Poderia ser seu lado sombrio e regido pela ódio, ou poderia ser aquele trabalho difícil, aquele recorde a ser superado, aquele tratamento de fertilização.

Ao longo do filme, me pegava pensando que jamais seria uma sobrevivente de um naufrágio. Sério. Não teria a paciência e tranquilidade dosadas com atenção e energia necessários. Jamais, jamais (esse segundo em sotaque francês pra dar mais ênfase) conseguiria. Depois, constatei que “A vida de Pi” (tradução livre, como se dizem) é uma linda metáfora sobre a vida, no melhor estilo oriental que conhecemos. E, sendo assim, posso muito bem ser capaz de enfrentar meus próprios tigres – pois o que realmente importa, o que realmente somos, é independente do percurso que escolhemos, de modo que a nós cabe definir o andamento da própria história.

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