domingo, 26 de julho de 2009

Sobre esta menina do blog

Minha prima tem medo dela, mas eu gosto demais desta menina do blog. Ela está de costas pra nós, mas de frente para o caminho que quer trilhar. Olha para onde pisa, mas sabe de cor as coordenadas para seguir em frente, sabendo também que pode alterá-las quando achar melhor. Sempre busca se equilibrar, mas se sempre busca, é porque nunca consegue totalmente (que bom). Tem no vestido as marcas do caminho pelo qual atravessa, da cidade, da mãe, do pai. Flores e terra áspera.
Gosto de suas cores. Gosto de não sabê-la de frente, mas ao mesmo tempo poder imaginar. Sei que se parece comigo. E, por isso, faço eu parte de seu ambiente, de sua terra e suas flores. Sou eu naquele vestido e no caminho, e no andar hesistante, na cor dos cabelos. Sou eu nestas cores, quem segue a trilha porque quer, tendo certeza passo a passo de saber onde pisar.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Caramelo


São dez quase em ponto, e eu acabei de voltar do cinema. Assisti ao “Caramelo”, um filme franco-libanês que fala da vida de mulheres de diferentes idades, porém do mesmo bairro, unidas pela amizade e pela busca pelo amor – seja ele amor por um homem, por outra mulher, pela família, uma pela outra ou por si mesmas. Pra mim, o filme também fala de escolhas que fazemos e as conseqüências delas de modo sério, visto que, em “Caramelo”, elas nos acompanham por anos e, se não forem substituídas (o que parece ficar cada vez mais difícil), permanecem por toda a nossa vida e se tornam nossa vida.

O filme traz personagens lindas e uma delicadeza que surge dos olhares, da fotografia, das canções e das texturas (especialmente das rendas e do caramelo do título, que é doce e dor ao mesmo tempo, pois é o material da cera de depilar feita por uma das personagens em seu salão de beleza). Enfim a beleza (que não à toa é uma palavra feminina) está em toda parte da história.
Engraçado que, enquanto as personagens principais trazem uma certa tristeza que as leva a buscar o outro, as mulheres que, em tese, encontraram alguém com quem viver por todos os dias (ou “por” quem viver “com” todos os dias...) são desenganadas. Disso tudo, portanto, resta o desengano das principais, que buscam no outro uma falta a ser preenchida e que na verdade não existe.

Jean-Jacques Lacan, psicanalista francês, dizia que a mulher não existe. Não existe à medida que seus desejos se voltam para a satisfação de outrem, pois assim se constitui: a mulher tem uma falta primordial que nunca é preenchida. Simone de Beauvoir dizia que não se nasce mulher, torna-se uma. A mulher é uma construção e, portanto, uma busca eterna. Se ela não existe, também nunca termina.

E é por tudo isso que fui ao cinema sozinha, pela primeira vez.